segunda-feira, 3 de agosto de 2009

THE END

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O Cinco Espinhos encerra as atividades em virtude da indisponibilidade de tempo das administradoras. Agradecemos a todos que contribuíram para as discussões e postagens, bem como aos que simplesmente apareceram em nosso contador de acesso e nos motivaram a manter o blog.
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Um abraço nosso.
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quinta-feira, 23 de julho de 2009

DE LÁ PRA CÁ

a poesia é a tradução de uma memória. por tradução entende-se o acto de explicar uma imagem, uma situação, ou alguém. por memória entende-se o conjunto de imagens, situações e pessoas. a poesia é uma imagem, uma situação, ou uma pessoa, traduzida em palavras. lida por todos ou por aqueles a quem fascina, a poesia não é escrita por muitos. descrever uma imagem, uma situação, ou uma pessoa, através da narrativa e de outros recursos linguísticos, está acessível à maioria de nós. assim, se quisermos descrever a fotografia acima, diremos que se trata de um quarto, ou de uma sala, embora a presença da cama nos incline mais para a primeira hipótese, mas nenhum de nós terá dificuldade em aceitar que se trata da divisão de uma casa. concordemos que se trata de um quarto e reformulemos: este quarto tem uma cama com um colchão, sem roupa. a janela está aberta e a cortina move-se ao ritmo do vento. a um canto do chão há uma planta e na parede um espelho onde se vê o reflexo de uma pessoa do sexo feminino. estes elementos são evidentes para quem vê esta fotografia. mas estes elementos, apresentados a quem não vê esta fotografia, têm o poder de se transformar noutra realidade. ou seja, se quisermos fazer um desenho de um quarto, com as características acima descritas, cada um de nós recriará no papel a imagem, a situação e a pessoa que o nosso cérebro emitir. a poesia é a recriação de uma realidade ou a projecção de uma ficção. através de palavras, fonemas e construções frásicas, o autor escreve o que pensa e sente e sobretudo o que quer fazer pensar e sentir. a narração não faz pensar ou sentir da mesma forma que a poesia pode fazer, porque a leitura da descrição de factos desperta quase automaticamente as imagens que os representam. embora a imagem de um quarto possa ser diferente para cada um de nós, é sem esforço algum que, ao lermos essa palavra, a compreendemos. por outro lado, a incompreensão que possa advir da leitura de um poema, não é a mesma que advém da leitura de uma narrativa. ao depararmo-nos com uma dúvida, por exemplo, na escrita ou no significado de uma palavra, podemos socorrer-nos de um dicionário ou de um prontuário ortográfico. mas, na poesia, satisfeitas todas as dúvidas de carácter linguístico, podem surgir outras de cariz literário. o entendimento de um poema dependerá da imagem, situação, ou pessoa, nele traduzidas. mais importante, contudo, e porque explicadas daquela maneira em particular, é o efeito sensorial que podem ter no leitor. é desejável que um poema desperte uma actividade neuronal que por outra via permaneceria intacta. a poesia é mais do que a descrição factual e o tamanho desse "mais" é o que o autor quiser.
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Alice Macedo Campos, Portugal

segunda-feira, 20 de julho de 2009

COMO DIRIA JOSÉ PAULO PAES...

Acima de qualquer suspeita

a poesia está morta

mas juro que não fui eu

eu até que tentei fazer o melhor que podia para salvá-la

imitei diligentemente augusto dos anjos paulo torres car-
los drummond de andrade manuel bandeira murilo
mendes vladimir maiakóvski joão cabral de melo neto
paul éluard oswald de andrade guillaume apollinaire
sosígenes costa bertolt brecht augusto de campos

não adiantou nada

em desespero de causa cheguei a imitar um certo (ou
incerto) josé paulo paes poeta de ribeirãozinho estrada
de ferro araraquarense
porém ribeirãozinho mudou
de nome a estrada de ferro
araraquarense foi extinta
e josé paulo paes parece
nunca ter existido

nem eu

quinta-feira, 16 de julho de 2009

tempo-passa

Meu pintinho amarelinho
não cabe mais na minha mão.

E batatinha quando nasce
é exportada - pro Japão?

A Bela Adormecida está acordada,
e minha rima é enjoada
só pra chamar tua atenção.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

GARIMPO LITERÁRIO

receita para um poema
inspirado em Waly Salomão

o poema não se escreve
sozinho, essa folha
com as letras já carimbadas
sobre o papel

é preciso um barbante
amarrado no punho
para puxar
palavras

que são teimosas, às vezes
cismam em não pintar
em correr para fora
da borda, pique-esconde
de letras no quarto
meus dedos buscando
nas paredes
o escuro


Escrito por Alice Sant´Anna

sexta-feira, 10 de julho de 2009

COMO DIRIA CHACAL...

Uma palavra

uma
palavra
escrita é uma
palavra não dita é uma
palavra maldita é uma palavra
gravada como gravata que é uma palavra
gaiata como goiaba que é uma palavra gostosa

terça-feira, 23 de junho de 2009

parábola pós ponderação

Paro para parecer
proposital a perda
de paradigmas
precipitados na
apropriação da
primeira prática
proibida. É possível
que se possa ser
passional com a
pessoa pressionada
à passear na passagem
do pensamento pulsante.
Pondo uma ponte
diante dessa gente
pendurada
ponta à ponta
pinta-se um pêndulo
ponderador de pancadas.

GARIMPO LITERÁRIO

a caneta

deu o sangue
por esses versos
descartáveis


Líria Porto

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Questionamentos poético-adolescentes

E eu, que já não tinha pernas

me sinto parada

Que já não tinha mãos

faço quase nada

Que já não tinha olhos

vista embaçada

- Vivo pra não morrer.


E eu, que já não tinha amigos

ando solitária

Que já não tinha mãe

nem imaginária

Que já não tinha amor

vivo de migalhas

- Choro pra não sofrer.


E eu, que já não tinha fé

perdi a esperança

Que já não tinha laços

quis fazer vingança

Que já não tinha passos

a solidão me alcança

- Ando pra não correr.


E eu, que já não tinha a mim

perdi meus ideais

Que já não tinha sonhos

dores tão reais

Que já não tinha planos

vidas marginais

- Escrevo pra não esquecer.


poema escrito aos 17 anos
- e eu não esqueci.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

DE LÁ PRA CÁ

Tierras Altas,
2006

Todo poema acota un espacio
y lo funda, baliza un territorio.
Aquíla altura es páramo
y remanso —los hombres callan— pero
el agua baja de los montes y su voz
desnudándose al aire me traspasa. Muchos
aquí se van y pocos
vuelven, los que se quedan vagan
como espectros rulfianos pero
su corazón sin catastrar ignora
la prisa y los registros. Aquí
los frutos son de otoño y cuando
llegan, porque las casas dan
al invierno y la flor se desploma
en ruina al pasmo de las noches
en pueblos sin escuela ni tabernas. Pero
todavía en algunos
es virtud la templanza y no se pierde
el hombre por el lucro o la apariencia. Estos
son los dominios del silencio. El tiempo
aquí se para. Y me traduce.


Fermín Herrero, Soria/España, 1963
Disponível em:

segunda-feira, 8 de junho de 2009

GARIMPO LITERÁRIO

Deus

Já faz tempo que desacreditei em Deus.
No entanto, nunca esteve tão longe
como só o que existe pode estar.
E por assim ter a distância,
abre-me a falta Dele ao peito.
Sei de explicações psicológicas, antropológicas,
li Levis Strauss,
mas o encanto faz-me viva.
Deus não será isso mesmo,
Nossos espíritos imaginando?


Elaine Pauvolid

quinta-feira, 4 de junho de 2009

COMO DIRIA CASSIANO RICARDO...

a rua

Bem sei que, muitas vezes,
o único remédio
é adiar tudo.
É adiar a sede, a fome, a viagem,
a dívida, o divertimento,
o pedido de emprego, ou a própria alegria.
A esperança é também uma forma
de contínuo adiamento.
Sei que é preciso prestigiar a esperança,
numa sala de espera.
Mas sei também que espera significa luta e não, apenas,
esperança sentada.
Não abdicação diante da vida.

A esperança
nunca é a forma burguesa, sentada e tranquila da
espera.

Nunca é a figura de mulher
do quadro antigo.
Sentada, dando milho aos pombos.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

GARIMPO LITERÁRIO

RESPONDE, DRUMMOND
(Iôiô torturado)

Será, Drummond?
Será que de tudo fica um pouco?
será que restou um fiapo de mim
naquele vestido de noiva?
ou qualquer pulsão de amor
sobrevivente no lodo do peito
- bronquite de adeus
Será?

Será, Drummond,
que do gesto final
sobrou um tchau?
Palavra teimosa
que vai e volta
iôiô torturado nas cartas de amor
que não soube escrever.

Será, Drummond
que o anjo do perdão
está tocando a campainha?
Será que o destino das coisas é o esquecimento?
É o tanto faz
o deixa estar.

Será, Drummond
que meu coração
é pedra
sabão?

Será, Drummond
que ela lembra de mim
quando ouve um solo
de clarim?
Será, Drummond?
Será?
Ou nada a ver...


Gilberto Amendola,
jornalista e escreve no Haja Saco
às quintas-feiras

sexta-feira, 24 de abril de 2009

DE LÁ PRA CÁ

.
Si la poesía es agua clara,
dulce caricia a los sentidos
quimera y ronda
sueño azul de rima y ritmo,
entonces
ya no soy poesía.
Pero si es lengua
y sangre,
y grito,
y pozo,
y llamarada.
Si es aquelarre de palabras
que liberan del hechizo,
entonces más que nunca
soy poeta.
Aunque mis versos
no me reconozcan.

Gisela Galimi
Buenos Aires, 1968

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Próximo lançamento: 23.05 em São Paulo




quinta-feira, 9 de abril de 2009

Modéstia à parte

.
Quero poder comemorar as coisas simples
- porque simples é o meu poema.
Invejar as flores que não são tristes
- porque triste é o meu poema.
se houver problemas, superá-los;
se ousar a corrupção, vencê-la;
Quero a prosperidade - na verdade,
hotel seis estrelas!
- porque meu poema é simples
e pretensioso.
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quarta-feira, 18 de março de 2009

O GESTO NÃO É PALAVRA
NEM O OBJETO
AS LETRAS NÃO SÃO ONÍRICAS.

A SEQUÊNCIA DE LETRAS FAZ O CONSCIENTE
PALAVRA É O PENSAMENTO.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Dízima periódica

as letras
em grupo
palavras




palavras
em grupo
frases




frases
em grupo
conto




conto
em grupo
romance




romance
em grupo
coleção




coleção
em grupo
coleção




coleção
em grupo
coleção

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A Mudez da Palavra

silêncio selvagem
chicotinho de palavras
dói tanto
que amarga
a boca de quem ouviu
............................ouviu ouviu
..........ouviu
.........................ouviu ......ouviu
ou
viu
e não disse nada.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

DE LÁ PRA CÁ

Avesso Bíblico

No início
já havia tudo.
Mas Deus era cego
e, perante tanto tudo,
o que ele viu foi o Nada.
Deus tocou a água
e acreditou ter criado o oceano.
Tocou o chão
e pensou que a terra nascia sob os seus pés.
E quando a si mesmo se tocou
ele se achou o centro do Universo.
E se julgou divino.
Estava criado o Homem.
.
.
Mia Couto (1955), Moçambique

domingo, 26 de outubro de 2008

Meninice

Como se fosse a primeira vez
Ela lambeu a ponta do lápis – mania que tinha
Riscou os olhos – traço curto e grosso

Como se fosse a primeira vez
Ela a olhou e disse:
“você não quer se riscar também?”

Como se fosse a primeira vez
As duas gerações descobriam-se
Pelo rastro dos riscos nos olhos.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

"Hoje em dia..."

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Sentia falta do tempo
em que as poesias (se) exaltavam:
- Oh céus, oh Cristo!
E por isso não lia mais
poemas, não aparecia
nos lançamentos, nas livrarias,
saraus ou sebos.

- Oh céus, mas que merda!
.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

DE LÁ PRA CÁ

Probable Lineage



Autor: Dan Waber

terça-feira, 14 de outubro de 2008

GARIMPO LITERÁRIO

Se eu me precipitasse...

se eu me precipitasse
em um precipício
e esse fosse a princípio
uma boca que falasse

e essa decidisse
pôr fim à queda e à sua falácia
e predissesse
qual um vate que musas invocasse

meu destino
e o mais que me coubesse
eu principiaria a rir
como se risse fosse

o passe de mágica
que transfigurasse
o que parecia inevitavelmente trágico
na mais despretensiosa tolice
.
.
Autor: Paulo de Toledo

M'água

Escrevo à luz da palavra que me consome:
rendo-me tão-somente às idéias
- dois ou três copos d’água –
nem sinto fome.
Vai dizer que viver
não é feito de mágica?
Mas, agora, racionamento de água:
falta-me inspir-ação, ânimo, páginas.
O solo resseca, o corpo sossega,
e a mente traja
luto.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

COMO DIRIA MANUEL BANDEIRA...

A Mário de Andrade Ausente

Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunham:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora sua falta.

Sei bem que ela virá
(pela força persuasiva do tempo)
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra.
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue,
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente.

Mas agora não sinto a sua falta
(É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)

Você não morreu: ausentou-se.
Direi: Faz tempo que ele não escreve
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.

Saberei que não, você ausentou-se. Para outra vida?
A vida é uma só. A sua continua
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua falta.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

GARIMPO LITERÁRIO

genealogia
a Cláudio Oliveira

No princípio eram as letras
Desarrumadas Quando nem alfabeto
havia De sentido
apenas a própria matéria
letral Os arranjos faziam-se
Por entre xsc vhal deim
deu no que deu: num verbo
Depois noutro e noutros A partir daí
tudo ficou mais fácil
As letras aprenderam a movimentar-se
De seus encontros nasceram
coisas como mar dobradiçasdo-
asfalto homens sol
roldanas-do-engano chaves-de-fenda
(estas últimas serviam
pra desmontar os encaixes
- com elas é que se descobriu
que dentro de todas as coisas
são letras que existem) Tempo virá
em que os arranjos voltarão a lembrar
estas sintaxes E traçarão outras
Estrangeiras
Começando sempre por onde nunca
se sabe


Autor: Alberto Pucheu

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O olhar penetrante sobre o corpo de um poema
pode engravidá-lo.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

ela lê o beabá do levedo
e lambe o dedo que leva o lápis:
aí vem o olho esquerdo a ver ao lado
o louvor da letra que se faz no copo
a loucura bêbada que se faz num chopp
-----------------------------------ou
---------------------------------cerveja

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

COMO DIRIA AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA...

Arte-final

Não basta um grande amor

.....................para fazer poemas.

E o amor dos artistas, não se enganem,

não é mais belo

.....................que o amor da gente.

O grande amante é aquele que silente

se aplica a escrever com o corpo

o que seu corpo deseja e sente.


Uma coisa é a letra,

e outra o ato,

.....................- quem toma uma por outra

............................confunde e mente.

domingo, 24 de agosto de 2008

L'homenaje

A party de agora
é fiesta!
A palavra está solta
do papel ao céu da boca
- Oh, este muy bello ciel!
Quiero comer New York,
los muffins de New York,
los seios de la statue de New York
- commettere un scandale public!

E assim amarrar minha bandeira
em todas as línguas.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

GARIMPO SEMANAL

COISA

Creio que irei morrer.
Mas o sentido de morrer não me comove.
Lembro-me que viver ou morrer são classificações como animais ou vegetais que tenham seu normal ou mais freqüente meio de vida. Apenas faço parte das coisas.
Aceito as dificuldades da vida porque fazem parte do destino – e acredito que sem elas não haveria propósito.
Se me queixo?
Sim, me queixo como quem meramente aceita, e encontra uma alegria no fato de aceitar.É difícil tanto quanto sublime aceitar o natural inevitável.
Sei que o mundo existe, só não sei se eu existo.
Estou mais certa da existência da minha casa na praia do que a existência da dona da casa na praia.

Só sei que a vida passa e não estamos com nossas mãos enlaçadas.

Tudo que existe simplesmente existe, é uma velhice que nos acompanha desde a infância.
A realidade não é uma idéia minha, a minha idéia de realidade é que é uma idéia minha.
Por que será que Deus quis que não o conhecêssemos?
Eu não sou filosófica: tenho sentidos...
Se falo de coisa não é porque sei o que é coisa, mas porque a amo, e amo por isso. Porque quem ama nunca sabe o que ama, nem por que ama, nem o que é amar. Amar é a eterna inocência.
E, ao lerem meus textos – pensem que sou qualquer coisa.


Escrito por Bianca Feijó
Disponível em: http://biancafeijo.blogspot.com/

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

COMO DIRIA MILLOR FERNANDES...

Poesia Matemática

Às folhas tantas
Do livro matemático
Um Quociente apaixonou-se,
Um dia,
Doidamente,
Por uma Incógnita.
Olhou-a com o seu olhar inumerável…
E viu-a, do Ápice à Base.
Uma figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No infinito.
“Quem és tu?” indagou ele
Com ânsia radical.
“Sou a soma dos quadrados dos catetos.
Mas pode chamar-me de Hipotenusa.”
E de falarem descobriram que eram
- O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs –
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação;
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim! resolveram casar-se.
Construíram um lar.
Mais do que um lar,
Uma perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro,
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E casaram e tiveram uma secante e três cones
Muito engraçadinhos
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo,
Uma Unidade. Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a relatividade
E tudo o que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como, aliás, em qualquer
Sociedade.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Sacilettra

domingo, 27 de julho de 2008

Inconfessáveis

Se escrevo é porque não suporto em mim
essa palavra ardente. E porque sufoca-me
o ar dessa enciclopédia aguda, a altura
do penhasco com o qual me defronto
quando penso em saltar - é sempre mais
alto, e maior o risco do tombo. Eu lhe escrevo
e ponto. Mas explico porque me inundam
as lágrimas que castigas ao receber notícias
minhas. Já houve um tempo em que havia tempo
e a gente só ria. Já houve riso, sentido, olhares
que se cruzavam atônitos antes de outro riso
e sentido. Olhares. Houve. E agora não enxergo
motivo para não lhe escrever sobre o vazio
que habita os cômodos - incomoda. É um tapa
o gesto que procuras ao me sentir chegando.
Eu sei que é Janis Joplin a sua dor, e descubro:
O número 2 é infinito. Multiplica-se e se subtrai;
nada harmonioso; inconfessável. Foram os hormônios
da época, eu a perdôo! Eu a perdoarei a cada
sorriso que essa criança esboçar
imitando o seu nome.
imitando o seu nome.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

GARIMPO SEMANAL

A GRACILIANO RAMOS

O dia é um rio. E nele
bebo as estrelas do céu
e recrio
nos remansos de cobras
os bambuzais.
Ao léu, penso ovelhas,
penso folhas que não caem,
carícias de vento nos coqueirais
— a vida que se disfarça.

Do trem que não passou,
penso a fumaça.



Autora: Lenilde Freitas
Disponível em:
http://www.algumapoesia.com.br/poesia3/poesianet251.htm




quarta-feira, 18 de junho de 2008

Bólide Palavra


sábado, 24 de maio de 2008

COMO DIRIA HILDA HILST...

Araras versáteis

Araras versáteis. Prato de anêmonas.
O efebo passou entre as meninas trêfegas.
O rombudo bastão luzia na mornura das calças e do dia.
Ela abriu as coxas de esmalte, louça e umedecida laca
E vergastou a cona com minúsculo açoite.
O moço ajoelhou-se esfuçando-lhe os meios
E uma língua de agulha, de fogo, de molusco
Empapou-se de mel nos refolhos robustos.
Ela gritava um êxtase de gosmas e de lírios
Quando no instante alguém
Numa manobra ágil de jovem marinheiro
Arrancou do efebo as luzidias calças
Suspendeu-lhe o traseiro e aaaaaiiiii...
E gozaram os três entre os pios dos pássaros
Das araras versáteis e das meninas trêfegas.

sábado, 17 de maio de 2008

Clarispectorando

um
silêncio
de
dar

( )
in-
cêndio
no
des... viu?
( )
antigamente eu era eu mesma.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

GARIMPO SEMANAL

Poema Frio

Inverno
inaugurou hoje
não no calendário,
que lá inda é outono,
mas no ano
no dia
na pele.

Inverno
invadiu o ar
que chora
uma chuva
molhada
chuva de inverno
molha até os papéis
(os que estão
nas gavetas)

Inverno
chove triste
molha a roupa
molha o corpo
molha os ossos
chora o dia
até virar noite

Inverno
encharca
as calçadas,
emboscado
embaixo das lajes,
alagando frieiras,
penetrando por
insuspeitos
buracos no sapato.

Inverno
triste e cinzento
como o dia
como a cidade
como o mofo
das paredes
e da alma
das pessoas

Se o inferno
fosse frio,


seria inverno


Autor: Renato de Mattos Motta

quinta-feira, 1 de maio de 2008

caça-palavras











quarta-feira, 16 de abril de 2008

and the oscar goes to...

Eu vou escrever um discurso para o bem
de todos. Vou celebrar toda uma Nação,
e Estados miniaturas da África,
da Europa e da Ásia - vou disseminar o vírus poético-
caótico no Azerbaijão. Em francês, une chanson triste
para os corações empedrados - leite em pó violado:
os ratos esperam seus restos – Oh, Imortais
da Literatura, eis mais um prêmio - o derradeiro,
o sentenciador - o mais perfeito é deixado para o final:
a Morte!

terça-feira, 8 de abril de 2008

COMO DIRIA ANA CRISTINA CESAR...

discurso fluente como ato de amor
incompatível com a tirania
do segredo

como visitar o túmulo da pessoa
amada

a literatura como clé, forma cifrada de falar da paixão que não pode
ser nomeada (como numa carta fluente e "objetiva").

a chave, a origem da literatura
o "inconfessável" toma forma, deseja tomar forma, vira forma

mas acontece que este é também o meu sintoma, "não conseguir falar" =
não ter posição marcada, idéias, opiniões, fala desvairada.
Só de não-ditos ou de delicadezas se faz minha conversa, e para
não ficar louca e inteiramente solta neste pântano, marco para
mim o limite da paixão, e me tensiono na beira: tenho de meu
(discurso) este resíduo.

Não tenho idéias, só o contorno de uma sintaxe ( = ritmo).

quinta-feira, 3 de abril de 2008

GARIMPO SEMANAL

Depois de agora

A chuva já recomeça:
e o sol ainda resta em frestas
(como o significado da palavra solidão).

O tempo mente o relógio.
Quanto tempo leva?
(uma tristeza para se libertar)

O tic-tac sem pressa...
Uma beleza leva quanto?
(Tempo para germinar)

Quem vai responder,
mesmo que se engane,
saberá que o engano às vezes é bom.

Por dentro
o tempo não pára enquanto
a minha roupa quara,
da janela pra dentro é
o mesmo (tempo.)

Temporal.


Do Poeta Marcos no Sindicato dos Escritores Baratos

sábado, 29 de março de 2008

Discussão

Falácias
Faces de palavras
......F...A...L...É
......................S
.........................I
...........................AS
..............................onde o corpo não é
lugar algum
Prata preta no lixo
da boca
Dá o que falar
(muita porcaria!)
em meio
ao cenário branco.

terça-feira, 25 de março de 2008

Aqui

De onde me encontro
- e me perco onde? -
posso ver as fagulhas,
as falácias, a facilidade
com que trabalhas a verborragia
quase inútil - operário das palavras;
examina
dor
dos
dicionários.
O teu trabalho árduo,
o teu canto girassol
é tão emblemático,
tão ensimesmado,
que reluz utópico
diante do anonimato.

De onde me encontro
- e não me procuro -
posso rir, e não me ouves;
posso escrever, e não me lês.
Sou um poeta.

terça-feira, 18 de março de 2008

COMO DIRIA GLAUCO MATTOSO...

SONETO 49 VERSÁTIL


A crítica que tenho recebido
é quanto ao tema, não quanto ao formato:
"O Glauco trata só de pé e sapato,
ainda que use o molde mais subido."

Respondo antes de tudo por Cupido:
comigo ele jamais teve contato.
Além do mais, não vou deixar barato
que assunto algum me seja proibido.

Sou cego mas eclético, e versejo
acerca de problemas tão diversos
que nem forró, barroco e sertanejo.

De grandes e pequenos universos
é feito o Pé que cheiro, beijo e vejo:
a Ele presto conta dos meus versos.

sexta-feira, 14 de março de 2008

E fica por isso

Preguiça de enviar palavras
- sussurros - na minha mente.
[Estou sem concentração.
Ou com, não sei...]
A gravidade pesa!
[E como]
Maltrata o corpo, dentro dele
[Machuca por dentro, sabe?]
-..........................................................olhos na parede,
os desvio com dificuldade e um pouco de raiva.........-
.........................................................................................
Os olhos me fecham
- sinto uma dor –
é uma palavra que não vem
mais . nada.

quarta-feira, 12 de março de 2008

GARIMPO SEMANAL




Autor: Joaquim Branco

sexta-feira, 7 de março de 2008

verborragia crônica

a inoperância do verbo
ser
dilata-se à freqüência com que
a língua trabalha
a língua, que mastiga o verbo
e dilacera e dilacera e dilacera
feito máquina, feito
indústria pornográfica, feito
merchandising: efeito.
Há por dentro uma língua toda máquina
uma linguagem toda verbo
e um machado cujo prego
preenche os buracos
da tua escrita emoldurada
(um machado de aço para-
fuso de giz)

a dita-dura da língua-verbo
(a dita cuja é só verbo-língua)
projeta um futuro quase passado
um pretérito mais-que-imperfeito
repleto de
oh,
hei,
ais!

Permeia o cético de tão divina língua-verbo
rejeita a faceta do concreto
a língua-verbo que é só língua só
não se atém à semiótica
sempre semi-nua
semi-atleta
semi-até-analfabeta

a língua-verbo
não lê, não
escreve, só saliva
diante do prato que não pode comer.

(está de dieta)

quarta-feira, 5 de março de 2008

PereguinAÇÃO

..............Só há fama na cama da moça,

que escreve rápido nos teclados

s.l.ç.n.o nostalgia.

.o.u.a.d

.........................................................................

.......................................- Na cama dela também há pecados,

..............................................mas isso não tem nada a ver -

.........................................................................

Ela jura pela letra de Ana:

..............Irá dissolver-se em toda a água

............................................o..m

.........................................d.........u

..........................................o.......n

..............................................d

..............Jura também por Caio e Paulo.

....................................................................

........................Conta cheia de pose:

....................“Pessoas de todas as partes:

....................vocês terão que me engolir.”

segunda-feira, 3 de março de 2008

COMO DIRIA MÁRIO FAUSTINO...

Vida toda linguagem

Vida toda linguagem,
frase perfeita sempre, talvez verso,
geralmente sem qualquer adjetivo,
coluna sem ornamento, geralmente partida.
Vida toda linguagem,
há entretanto um verbo, um verbo sempre, e um nome
aqui, ali, assegurando a perfeição
eterna do período, talvez verso,
talvez interjetivo, verso, verso.
Vida toda linguagem,
feto sugando em língua compassiva
o sangue que criança espalhará – oh metáfora ativa!
leite jorrado em fonte adolescente,
sêmen de homens maduros, verbo, verbo.
Vida toda linguagem,
bem o conhecem velhos que repetem,
contra negras janelas, cintilantes imagens
que lhes estrelam turvas trajetórias.
Vida toda linguagem –
como todos sabemos
conjugar esses verbos, nomear
esses nomes:
amar, fazer, destruir,
homem, mulher e besta, diabo e anjo
e deus talvez, e nada.
Vida toda linguagem,
vida sempre perfeita,
imperfeitos somente os vocábulos mortos
com que um homem jovem, nos terraços do inverno, contra a chuva,
tenta fazê-la eterna – como se lhe faltasse
outra, imortal sintaxe
à vida que é perfeita
língua
eterna.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

com penetração

.
Vou escrever um poema
de camisola
e penetrá-lo, penetrá-lo, penetrá-lo
de camisinha.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Com e sem os pingos

Os pingos nos “is” não vou pôr
e dispor em desacento ordenado.
Acima de cada palavra um pensamento.
Formação de continui-frase-dade em segmento
incomoda se no fim a distância aumenta
se palavra (en)curta a frase (a)tormenta.
Reconstitui o tudo por um novo
e as mãos suplicam reboco
do princípio a fuga não existe
é o começo indubitável
pintável
triste.
Feliz
no fim do agora é futuro.
Reescreve em partes cada etapa no escuro,
reflexões que cheias de “is” aparecem -
abaixo a importância dos pingos -
e deixo você pô-los dessa vez.
Construir frases simples e retas -
nada de listras ou xadrez -
Tudo mostrado nos mínimos, com mimos,
manual de explicações, setas,
Não deixar ninguém pensar...
E os pingos nos céus eu vou pôr,
para chover até que tudo acabe!
Pois de que me adianta viver assim?
Sem entusiasmo, com tanto detalhe?
Está jogado na face!
Tiraram a minha contemporaneidade – achei que ela não tinha fim.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

COMO DIRIA DORA FERREIRA DA SILVA...

Órfica

Não me destruas, Poema,
enquanto ergo a estrutura do teu corpo
e as lápides do mundo morto.
Não me lapidem, pedras,
se entro na tumba do passado
ou na palavra-larva.
Não caia sobre mim, que te ergo,
ferindo cordas duras,
pedindo o não-perdido
do que se foi. E tento conformar-te
à forma do buscado.
Não me tentes, Palavra,
além do que serás
num horizonte de Vésperas.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Que droga!

Escrevia um concretismo tal
que soou subjetivo. "Cadê o sujeito? Cadê
a essência além da forma? Perfeito:
agora eu uso palavras diversas
para escrever uma só". Não entendia, não
prestava atenção ao poema. Tanto dizia
ele, perdeu o sentido naquela folha perdido,
amarelo doente de pó.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

GARIMPO SEMANAL

Apartheid Soneto




Autor: Avelino de Araújo

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Engula

..........................................................Letra mais
.............................................letras chegam
............................................mar à tona
...................................de boas vindas
.........................Amontoam-se na boca
........................salivando entre os dentes
.................................engolindo as palavras
........................................GORDOS GOLES:
...........................................blog blog blog blog
.............................................................e mas-
...............................................tigo mastigo
como
(não há mar)
a língua que eu amo?
(não há mar)
as letras que eu amo?
(não há mar)
entretanto
................afogam
............................se...
..................................no seco da garganta
.....................................................descem
.....................................................seus
.....................................................hífens
.....................................................tal
.....................................................vez
.....................................................também
.....................................................os
.....................................................pontos
.....................................................e
.....................................................vír
.....................................................gulas.




poema feito por Aline Gallina e Priscila Lopes

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Sensação travestida

Hoje nasceu um homem bom

de barbas brancas e chapéu.

Quando feto, era quase invisível

e cresceu anos à frente do que seria normal.

Nesta tarde ele deve ter posto ao seu redor o direito

de levar os olhos às letras de sua mãe

e escolher a melhor posição

para passar algumas boas horas escrevendo.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

PPS - Pequena Poética Saudosista

Posso esquecer-me de amigos e parentes
- hei de esquecer o nome do João da padaria,
da tia Idalina, do seu Francisco - e tanta gente
se anuncia à minha frente, eu vou sozinha?
Não. Vêm todos os Andrades – e na Rua dos Andradas vamos
encontrar o velho Quintana. Porque outro dia me disseram
que eu estou adiantada – à frente do meu tempo me observam:
Eu cheguei muito atrasada.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A dança da tansa

Olha a lambança que a tansa fez!
Deixou que lhe servissem de dedos
os anéis que sumiram.
Veja a dança que a coitada tem!
É de quebrar meu pescoço de ré
que lhe é bem-vindo.
Mas por que a moça desengonçada
insiste em brincar com a tinta no
papel pautado?
Seu construir é um tanto ousado
Para quem nem sabe o que é pintar.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

GARIMPO SEMANAL

Esmo

O líqüido negro e quente
invadindo a lingua às iminências
Suga da epiderme terminal de mais um dia
o esqueleto arquitetado das idéias esvaídas
do expirar aeróbico de cada sofisma
Morada erguida pelas mãos de mais um negro
Em nosso ser o cacifo do infinito
O café, enfim, nos traz à tona
e a caneta reticencia seu esmo.


Autor: Carolina Caetano

sábado, 19 de janeiro de 2008

Degustação

Eu comecei a ter medo da escrita.
Parece que cada palavra
me engole
sem mastigar.
- Vomita, vomita!
Outro dia, eu estava passando
por um livro do Vinicius
e ouvi: "Que moça bonita!"
Eu sou maluca.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

COMO DIRIA CECÍLIA MEIRELES

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E sei que um dia estarei mudo:
- mais nada

sábado, 12 de janeiro de 2008

Que maldade

Horrível!
Um horror irreversível que mata meus olhos
Torna a cegueira desejavelmente perdoável
- eu que não vi o que ocorreu -
senti na pupila todo o asco
que tua repugnante letra
me contou
às zero horas
do dia tal.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Fonética

Possuía um tranqüilo sotaque
caipira.
Com a ponta da língua erguida e
levemente voltada para trás,
ela a apontava em direção
ao palato duro.
Isso mesmo: a sub-lâmina
da língua molhada
indicando o palato duro.
Possuía um arrojado som retro-
flexo.
- Ah... inocente fonética!

sábado, 5 de janeiro de 2008

GARIMPO SEMANAL

Atitude

Rimar faz mal,
coitado do poeta,
que por qualquer razão,
quer ligar, rimar, juntar.

Prefiro versos soltos,
pequenos e grandes,
cheios de gentes,
cantantes, falantes, antes.

Porra! O que eu faço?
versos e rimas,
narro fatos.

Reflito o momento,
comento, assuntos assim,
não vejo essência,
em fazer versos pra mim.


Autor: Rodrigo Capella
Disponível em: www.rodrigocapella.com.br

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

COMO DIRIA PAULO LEMINSKI...

DESENCONTRÁRIOS

Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

a terceira face é você

Piscam duas faces diferentes para mim:
uma é branca,
a outra é preto e par.
Cera de giz em formato simples
delineia toda a história por trás de tudo.
Um hiato traz a saída e
um grito!
Voa de dentro para frente. Explodiu
o escuro da polpa
Vira de costas e vai embora
Deixa o ímpar carregado, sufocado
Nunca abandonado!
Até a terceira face o devorar em sustenido
Insistido, perseguido.
Oh! Meu Deus o mate agora.
Seu papel está mais do que feito.
Amassa a face e também se vai.


Poema de Aline Gallina
(em viagem)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Solo Fértil

Um sol me espia na noite
pálido de pavor.
Creio que fotografa as palavras
que não escrevo
e as imprime nesta folha
branca; minha cara,
eu atropelei o que falavas,
porém, está tão vivo - e isto,
sim, me mata.

O teu balão de vida
full gas
O teu ritmo de régua
full time
esvaziam minha paciência lírica.

Dirás que temo o teu ta-
lento... lento... lento....
- mas o passado ecoa,
não cria novos sons.

Temo é que estas criaturas "tapadas"
não enxerguem o clima que faz hoje:

choveu muito nos últimos 70 anos,
e agora germinam as árvores
das frutas que o Tempo apodreceu
no solo firme do desprezo.


...............................................O sol me espia na noite, pois
................................................já não há como desprezar.

domingo, 23 de dezembro de 2007

GARIMPO SEMANAL

aqui dentro é sempre noite.
aqui dentro eu não perdôo ninguém.
aqui dentro eu tô armado
e há uma revolução em curso.

uma só!
mas que dura há mais de 20 anos.
algo sem igual na historiografia.

(porque fazer revolução para conquistar
uma nação é fácil.
quero ver fazer isso aqui dentro,
onde não há espaço)


Autor: Fabio Jardim

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

COMO DIRIA CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE...

A PROCURA DA POESIA

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e amemória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Inglês

Estou com uma mania de
recorrer à tua língua
- ela tira tártaros que obstruem
meu cérebro.
Sou teimosa ao ponto de esquecer
o que ia dizer?

É preferível o tal
............[outro olhar
quase imprescindível,
a ponto de exclamação.

E você nem sequer sabe meu nome!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Influxo

Eu mereço a mulher que passa
do homem que declama
o poema.
É isso que eu mereço quando
diante da folha branca
a inspiração não chega

- Mas de................................. onde?
......................................................................vem

Há uma hora aguardo por esse momento
em que tu entrarás transparente e nua
e eu a comerei em branco e preto.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Compulsão

Um socorro à minha espreita,
caneta tinteiro à minha mão
Não poderia deixar de escrever uma ou duas frases
- uma palavra talvez .
Mato o socorro ao meio.
O papel sangra por vinte segundos, eu acho
que todo o sofrimento é só meu

Guardo a cicatriz até hoje,
- ela não é minha -
mas intriga minha vontade
de enterrá-la de vez.

domingo, 9 de dezembro de 2007

as bordas do "bother"

Gostava de música internacional e lia
poemas de amor, antigos demais
para os sentimentos atuais.
Mostrei alguns dos meus,
- exigente que fui, ou ingênua? -
olhou do papel para o chão e, então,
disse me que não gostava de escritos que falassem
sobre escrever:
"É chato..."
Boring.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

GARIMPO SEMANAL


da dor
nasce o poema
i

que é amor
i

do amor nasce a dor
i

da dor
nasce o poema
i

que
adormece a dor
i

a dor mede a dor
i

adormecida
i

cumprida,
lânguida,
sinuosa
i

dorminhoca
i

a dor éiiGRA(N)DE, mesmo dor
ooooooiGRA(N)DEiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimin
iiiiiiiiiiiiiGRA(N)DE iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiido
iiiiiiiiiiiii
i

a dor mexe!
i

Shiiiiiiii! Vai despertar a dor.
i

E eu...
i

Nunca mais
i

iiiivou
Aiiiiiiiime
iiiidor
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiser.
i

a
iiinão ser...

i
Alguém aí conhece um bom

iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimata dor?


Autor: Caio Cezar Mayer

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

COMO DIRIA ADÍLIA LOPES...

Depois de ler Natércia Freire

Não quero escrever
mais poemas

não quero escrever
mais
E quero sempre
escrever mais

Escrever o mesmo
haver sempre
nova vez

Não mudar
centro
o Sol
Deus
eu

não mudar
a árvore
de lugar

Não mudar

Não me calar
e calar-me

Cavar branca
a sepultura
como quem faz
uma cama

Correr
como corre
o rio

Para como pára
a pedra
como o caçador
que volta
da caça

de mãos a abanar.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Ditado impopular

Quem confere o ferro está ao meu lado
louco por um deslize.
Eu escrevo torto. O correto é so-
letrar o literário para Deus meu! entender.
Continua o te-ar dos dedos perdidos ao
longo do que ficou dito.
Pega o ar do final e chuta para o início:
Ar-te que te fere (in)diretamente.

Psicografia

Hoje eu vou fazer uma confissão:
Eu não sou um poeta.
Eu, na verdade,
- e por favor, segure o riso -
eu nasci um poema,
desses de improviso.
À noite, quando me sento
para escrever,
ouço os suspiros
de Vinicius;
A certeza incerta
de Drummond;
Dou gargalhadas com Quintana;
Paulo Leminski me observa:
- Que bom, que bom!
E de vez em quando,
muito sutilmente,
sinto a mão de Gil Vicente
sobre a minha mão.

Panorama Literário Brasileiro 2007/2008
As 150 melhores poesias de 2007
Câmara Brasileira de Jovens Escritores

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Entreversos

Venero o verso livre
que não escapa ao poema
- quando se_____ solta _____ na linha,
VIVE
a morrer
na exclamação:

Ó grave tinta escura de superfície
Corajosa, riscas meu vôo líqüido,
Acorrentas vazia o verso sem timbre
Veneno-padrão que morre vívido!

Ressuscita com uma vírgula.
Retira risco por ponto.
Faz virar......................ponta
....................cabeça
o verso branco antes enterrado.

Bocas apojadas salivando antífonas.

Poetas? Não, bibliotecários! Cirurgiões
literários de bisturis estéticos;
reféns do temor de contágio poético;
cozinheiros de rimas;
sobre
.........vivem nas mesinhas de cabeceira.
- Vamos exaltar o criado-mudo!
- Avante, Lirismo! Ô conFORMismo! Ostra-
cismo.

contudo que seja ação:
metrificação

- Realmente, Coronel! Você, Soberano
Lirismo.
- Tens uma alma bem cruel. Eu cismo?

Trago os alfarrábios no braço.

Suporte teórico em signos embebido
Rebuscas grotesco minh'alma de crassície.
Onipresente, destoa do tempo a calvície
Com o poder do trono a ti concedido.

É que de repente explode um son...
eto eto eto - ecoa na memória nua,
palavra que desperta a tentação
de rimar com crua, lua, tua...

Tua mão delicada outrora me disse.
Quão tonto nos deixa o efeito cumprido
É demais o perigo d’esse fazer tímido.

E é antiga e escura daqui a imundice.
Intensa atenção recolhida do ouvido.
Ó som retumbante que me és típico!


con-vida à caixa de ressonância
- o Tempo, este passeio cíclico;
este desperdício de; lágrima
desMANCHA versos no papel
e não apaga as linhas do Passado.

(é que eu me inspirava em Quintana,
enquanto Ele gritava: Quintilha!)

Por Aline Gallina e Priscila Lopes

terça-feira, 27 de novembro de 2007

GARIMPO SEMANAL

À la Drummond

E agora? A poesia morreu, o sonho acabou.
Quer ir para Pasárgada. Pasárgada não há mais.
Manuel? E agora?



Autor: Wilson Gorj
Disponível em: http://omuroeoutraspgs.blogspot.com/
Alguns aperitivos: http://www.veredas.art.br/

domingo, 25 de novembro de 2007

Poesia (in)culta

Meus miolos tosqueiam o ar
poético subentendido como culto.

Desculpem-me, mas creio que
não sou poeta. Devo ser mais um
escritor amador, mas amo a dor
que escrever me causa.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Abstração

Pássaros, pássaros! Passos
sôfregos perpassando o tempo
- e o Tempo é onde?

Vendo os olhos
de uma criança
que chora

(e o verbo é quando?)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Trazendo os olhos

Se eu não ouço o que escrevi
é porque insisto em meus olhos fechados .


A surdez dos olhos é a surdez da alma!

sábado, 17 de novembro de 2007

poema-(des)pedido

Quando eu houver partido,
mande lembranças minhas
à vida que não vivi,
por tanto teor comedido
- do desdireito de ir
e vir - conte a ela sobre
o poema-verso-livre
que nunca alcei em linhas
pois preso estaria ali.
Quando eu houver partido
ao meio, juntar as letras
de mim - pois a escrita
me lê, mas o verbo me foge
e meu papel resiste à tinta preta.
Comemorar cada ponto impreciso
das minhas reticências - corre
em minhas veias uma interjeição
que se exclama só, grita, sALTA, (morde!)
Quando eu houver partido
inteira, à maneira de ser oculta,
respeite meus fonemas como
quem não reage ao insulto de
saber-se (con)sentindo o chão
- ordenadamente orientam-se os
críticos
no rio raso da rasura:
por favor, corrijam o meu erro
corrijam-me o erro
corrijame.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

GARIMPO SEMANAL

vice-verso.

e, no espelho,
. . . . . . . . . . . . este que me fita

é mero reflexo?

ou sou eu

. . . . . . . . . quem o imita?



Autor: J. Rodolfo Lima

terça-feira, 13 de novembro de 2007

RESULTADO DA ENQUETE

Perguntamos com qual geração poética os visitantes se identificam mais: Drummond e Cabral, Augusto de Campos e Pignatari, Leminski e Ana Cristina ou Rodrigo Garcia Lopes e Ricardo Aleixo. A primeira dupla foi a mais pontuada, seguida de Leminski e Ana C.

Em resposta à enquete compomos um poema com citações de cada um dos poetas acima.


Intemporalidade Poética

Um galo sozinho não tece uma manhã:
tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
puro
__num
____mo
___mento
__vivo
E há de chegar paciente ao nervo dos teus olhos,
quem está por fora
não segura
um olhar que demora.
Frente a frente, derramando enfim todas as
palavras, dizemos, com os olhos, do silêncio que
não é mudez.
Veja sua poeira cruzando o panorama.
Os ecos que soltamos não retornam.
incompreensível, mas esplêndida língua
se formando ainda, pode ser que se decompondo.


Por Priscila Lopes e Aline Gallina

domingo, 11 de novembro de 2007

Solidão

Ainda não amanheceu aqui.
Estou só,
acompanhado do sujeito inexistente
e da penumbra
que teima descolorir em cinza.
Podem-se ouvir os grilos
gritam forte saltando da cabeça.
A partícula apassivadora agora é
um incômodo.
E o índice de indeterminação do sujeito
solidifica-se quando fecho os olhos.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

GARIMPO SEMANAL



Autor: Paulo de Tarso Aquarone

Disponível em: http://www.pauloaquarone.com/

Contato: pauloaquarone@terra.com.br

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Oscilação do Tempo

adiantada. Talvez eu esteja

Haverá o dia em que lerão minhas palavras,
mas hoje não:
silêncio, e amarga
a boca o café
preto como a visão nublada
de um crítico.

É o caso de Cruz e Sousa
que quando morto,
esteve mais vivo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Sinônimos

Definição de tudo e do ser e do mais
E do não ser pelo que menos poderia
Sem o porém das exceções
Dos além do mais
Que negam a existência em primeiro grau
Subjetivo de recalque de palavra
Retira o significado e substitui por outro
A decorar os itens diversos
Trazem ambigüidades para os ninhos
Passageiros de meia estrada sem fim
E traz duas saídas para os labirintos
[de uma só entrada.
Perpetuando todos os sinônimos
Avessos dos quadrados
Iguais ao um do espaço paralelo.

domingo, 4 de novembro de 2007

abolindo os cacos

Caçoaste da minha ca-
co - caco - fonia; característica
esquisita: mea culpa. Adminto.
Cada qual com sua mania (bem
clichê) a tua: supera-bundar a
exuberância estrutural extra-
passada. Forasteia a tua bandeira:
extradi(c)ção. Excreta-me a
intratável - em tempo hábil - tão
sonhada abolição.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

GARIMPO SEMANAL

Caixa de Carne

o mundo lá fora exigindo minha voz

a essência que me permeia fica quieta
tempos de inverno

sobrevivo olhando a fronte de alguns
à frente de mim mesmo

sou homem de recursos escassos
sei pouco daquilo que emprenha
as vítimas de minha sedução

quase mês sem gritar
quase mês sem soletrar a dor

por isso escamo feito peixe
caixa de carne triste
azedumes contemporâneos

ainda restam gemidos

- melhor -

ganidos palavrosos
deste seu cachorro sem escolhas


Autor: Rubens da Cunha

domingo, 28 de outubro de 2007

Desmistificando a fala

Palavra lavrada
era uma pá de palavras
mas a pa-lavra de cara lavada
foi levada à fala.
Palavra em varal
passou pela língua
ninguém a notava.

Bateu no céu-da-boca e fugiu.

Cara de pau essa palavra!

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Ex-posição gradual

O sol me rasteja o verbo
até untar ao céu da boca; eu
mergulho tua saliva em banho-
“Maria biblioteca”, eu te chamo,
“Joãozinho dicionário” (de rimas).
Vamos pular uma linha para fazer um
soneto: vamos, vamos! Que nada, é pura
trova, é um suspiro apenas: hAikAi! Raios!
Não entendo o puritanismo poético, esse zelo
desmedido - tão simétrico – faz sentido formal,
não mexe comigo – não mais – como antes, igual
ao que me tocava; como um ex namorado, passou: um
dia, eu sei, o havia amado, mas, a fila anda, e você está um
pouco, digamos assim, para ser bem franca, bastante atrasado.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

GARIMPO SEMANAL

Nudez

O nariz pipa, a pique, vomita o ego.
A máscara não dissolve
Nem absorve a arrogância.
Textos são asas.
Olhos, intérpretes da vida
E da falência da razão.
Palavras voam.
São roupas jogadas ao vento.


Autor: Carlos Alberto Fiore
Disponível em: http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=26041

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

O Fulano de Tal e "essa menina"

Eu sou o Fulano de Tal,
dono de posses.
És filha de quem, "essa menina"?
Quando eu crescer quero ser inscritora

Hoje o nome d'ela é poeta.

*

Lembra-se do Fulando?
Tinha os dois olhos tortos e as mãos fechadas.
Desistiu do tratamento por ser caro
Quando vai ler, olha para o próprio nariz.
Engraçado ele não se entender!

*

Inscrevo,
porque é para dentro.
Se for para fora é excrevo.
Inscrevo num desdiário
inconfissões.

*

O fulano não gosta de mim,
mas acho que é porque tem o nariz muito grande.
Se eu crescer mais ainda,
quero ser gigante também.
Mas quero que o não-corpo cresça junto.

RESULTADO DA ÚLTIMA ENQUETE

Na última enquete indagamos a opinião de vocês sobre os poemas de ônibus/metrô. O resultado empatou entre: a)serem lamentavelmente fracos e pouco contribuírem para a inserção da poesia no "gosto popular"; b)há poemas bons e ruins. O importante é estar expondo.
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Então, aqui vai um texto de ônibus de Florianópolis para aqueles que aqui não circulam terem uma idéia do que ocorre:
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É Poesia - Cacildo Silva

Quando a saudade aperta o coração,
Mas te conformas.
Quando ao ficares só te sentes forte,
Sem solidão.
Quando a imaginação te faz planos,
E o faz bem.
Quando sentes o aroma, são, da vida,
É, dela, a flor.
Quando vês que é sincero o que sentes,
É Poesia.
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Limito-me a publicar o texto como um compromisso assumido com a enquete, uma vez que tenha ocorrido empate. O "poema" aqui exposto não expressa as opiniões das administradoras do blog.
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Abraços, e continuem comentando.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Escândalo na Família Gramatical

A Gramática Clássica
é uma senhora pomposa
e histérica: virginiana,
horizontal, matemática,
gorda (obesa!), parnasiana,
madrasta má, professora
de régua na mão, a monarca,
patriota, celibatária, o patrão.

Mesmo com a doçura de um cacto,
teve ramificações - penosas.

A filha da sua filha,
"A Nova Gramática Contemporânea do Brasil",
a visita com freqüência: sagitariana,
transversal, problemática...
cuja quantidade de amantes
se envereda ao inventário
(sem hierarquização)

- Escancaradinha, não?