segunda-feira, 3 de agosto de 2009

THE END

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O Cinco Espinhos encerra as atividades em virtude da indisponibilidade de tempo das administradoras. Agradecemos a todos que contribuíram para as discussões e postagens, bem como aos que simplesmente apareceram em nosso contador de acesso e nos motivaram a manter o blog.
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Um abraço nosso.
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quinta-feira, 23 de julho de 2009

DE LÁ PRA CÁ

a poesia é a tradução de uma memória. por tradução entende-se o acto de explicar uma imagem, uma situação, ou alguém. por memória entende-se o conjunto de imagens, situações e pessoas. a poesia é uma imagem, uma situação, ou uma pessoa, traduzida em palavras. lida por todos ou por aqueles a quem fascina, a poesia não é escrita por muitos. descrever uma imagem, uma situação, ou uma pessoa, através da narrativa e de outros recursos linguísticos, está acessível à maioria de nós. assim, se quisermos descrever a fotografia acima, diremos que se trata de um quarto, ou de uma sala, embora a presença da cama nos incline mais para a primeira hipótese, mas nenhum de nós terá dificuldade em aceitar que se trata da divisão de uma casa. concordemos que se trata de um quarto e reformulemos: este quarto tem uma cama com um colchão, sem roupa. a janela está aberta e a cortina move-se ao ritmo do vento. a um canto do chão há uma planta e na parede um espelho onde se vê o reflexo de uma pessoa do sexo feminino. estes elementos são evidentes para quem vê esta fotografia. mas estes elementos, apresentados a quem não vê esta fotografia, têm o poder de se transformar noutra realidade. ou seja, se quisermos fazer um desenho de um quarto, com as características acima descritas, cada um de nós recriará no papel a imagem, a situação e a pessoa que o nosso cérebro emitir. a poesia é a recriação de uma realidade ou a projecção de uma ficção. através de palavras, fonemas e construções frásicas, o autor escreve o que pensa e sente e sobretudo o que quer fazer pensar e sentir. a narração não faz pensar ou sentir da mesma forma que a poesia pode fazer, porque a leitura da descrição de factos desperta quase automaticamente as imagens que os representam. embora a imagem de um quarto possa ser diferente para cada um de nós, é sem esforço algum que, ao lermos essa palavra, a compreendemos. por outro lado, a incompreensão que possa advir da leitura de um poema, não é a mesma que advém da leitura de uma narrativa. ao depararmo-nos com uma dúvida, por exemplo, na escrita ou no significado de uma palavra, podemos socorrer-nos de um dicionário ou de um prontuário ortográfico. mas, na poesia, satisfeitas todas as dúvidas de carácter linguístico, podem surgir outras de cariz literário. o entendimento de um poema dependerá da imagem, situação, ou pessoa, nele traduzidas. mais importante, contudo, e porque explicadas daquela maneira em particular, é o efeito sensorial que podem ter no leitor. é desejável que um poema desperte uma actividade neuronal que por outra via permaneceria intacta. a poesia é mais do que a descrição factual e o tamanho desse "mais" é o que o autor quiser.
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Alice Macedo Campos, Portugal

segunda-feira, 20 de julho de 2009

COMO DIRIA JOSÉ PAULO PAES...

Acima de qualquer suspeita

a poesia está morta

mas juro que não fui eu

eu até que tentei fazer o melhor que podia para salvá-la

imitei diligentemente augusto dos anjos paulo torres car-
los drummond de andrade manuel bandeira murilo
mendes vladimir maiakóvski joão cabral de melo neto
paul éluard oswald de andrade guillaume apollinaire
sosígenes costa bertolt brecht augusto de campos

não adiantou nada

em desespero de causa cheguei a imitar um certo (ou
incerto) josé paulo paes poeta de ribeirãozinho estrada
de ferro araraquarense
porém ribeirãozinho mudou
de nome a estrada de ferro
araraquarense foi extinta
e josé paulo paes parece
nunca ter existido

nem eu

quinta-feira, 16 de julho de 2009

tempo-passa

Meu pintinho amarelinho
não cabe mais na minha mão.

E batatinha quando nasce
é exportada - pro Japão?

A Bela Adormecida está acordada,
e minha rima é enjoada
só pra chamar tua atenção.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

GARIMPO LITERÁRIO

receita para um poema
inspirado em Waly Salomão

o poema não se escreve
sozinho, essa folha
com as letras já carimbadas
sobre o papel

é preciso um barbante
amarrado no punho
para puxar
palavras

que são teimosas, às vezes
cismam em não pintar
em correr para fora
da borda, pique-esconde
de letras no quarto
meus dedos buscando
nas paredes
o escuro


Escrito por Alice Sant´Anna

sexta-feira, 10 de julho de 2009

COMO DIRIA CHACAL...

Uma palavra

uma
palavra
escrita é uma
palavra não dita é uma
palavra maldita é uma palavra
gravada como gravata que é uma palavra
gaiata como goiaba que é uma palavra gostosa

terça-feira, 23 de junho de 2009

parábola pós ponderação

Paro para parecer
proposital a perda
de paradigmas
precipitados na
apropriação da
primeira prática
proibida. É possível
que se possa ser
passional com a
pessoa pressionada
à passear na passagem
do pensamento pulsante.
Pondo uma ponte
diante dessa gente
pendurada
ponta à ponta
pinta-se um pêndulo
ponderador de pancadas.

GARIMPO LITERÁRIO

a caneta

deu o sangue
por esses versos
descartáveis


Líria Porto

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Questionamentos poético-adolescentes

E eu, que já não tinha pernas

me sinto parada

Que já não tinha mãos

faço quase nada

Que já não tinha olhos

vista embaçada

- Vivo pra não morrer.


E eu, que já não tinha amigos

ando solitária

Que já não tinha mãe

nem imaginária

Que já não tinha amor

vivo de migalhas

- Choro pra não sofrer.


E eu, que já não tinha fé

perdi a esperança

Que já não tinha laços

quis fazer vingança

Que já não tinha passos

a solidão me alcança

- Ando pra não correr.


E eu, que já não tinha a mim

perdi meus ideais

Que já não tinha sonhos

dores tão reais

Que já não tinha planos

vidas marginais

- Escrevo pra não esquecer.


poema escrito aos 17 anos
- e eu não esqueci.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

DE LÁ PRA CÁ

Tierras Altas,
2006

Todo poema acota un espacio
y lo funda, baliza un territorio.
Aquíla altura es páramo
y remanso —los hombres callan— pero
el agua baja de los montes y su voz
desnudándose al aire me traspasa. Muchos
aquí se van y pocos
vuelven, los que se quedan vagan
como espectros rulfianos pero
su corazón sin catastrar ignora
la prisa y los registros. Aquí
los frutos son de otoño y cuando
llegan, porque las casas dan
al invierno y la flor se desploma
en ruina al pasmo de las noches
en pueblos sin escuela ni tabernas. Pero
todavía en algunos
es virtud la templanza y no se pierde
el hombre por el lucro o la apariencia. Estos
son los dominios del silencio. El tiempo
aquí se para. Y me traduce.


Fermín Herrero, Soria/España, 1963
Disponível em:

segunda-feira, 8 de junho de 2009

GARIMPO LITERÁRIO

Deus

Já faz tempo que desacreditei em Deus.
No entanto, nunca esteve tão longe
como só o que existe pode estar.
E por assim ter a distância,
abre-me a falta Dele ao peito.
Sei de explicações psicológicas, antropológicas,
li Levis Strauss,
mas o encanto faz-me viva.
Deus não será isso mesmo,
Nossos espíritos imaginando?


Elaine Pauvolid

quinta-feira, 4 de junho de 2009

COMO DIRIA CASSIANO RICARDO...

a rua

Bem sei que, muitas vezes,
o único remédio
é adiar tudo.
É adiar a sede, a fome, a viagem,
a dívida, o divertimento,
o pedido de emprego, ou a própria alegria.
A esperança é também uma forma
de contínuo adiamento.
Sei que é preciso prestigiar a esperança,
numa sala de espera.
Mas sei também que espera significa luta e não, apenas,
esperança sentada.
Não abdicação diante da vida.

A esperança
nunca é a forma burguesa, sentada e tranquila da
espera.

Nunca é a figura de mulher
do quadro antigo.
Sentada, dando milho aos pombos.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

GARIMPO LITERÁRIO

RESPONDE, DRUMMOND
(Iôiô torturado)

Será, Drummond?
Será que de tudo fica um pouco?
será que restou um fiapo de mim
naquele vestido de noiva?
ou qualquer pulsão de amor
sobrevivente no lodo do peito
- bronquite de adeus
Será?

Será, Drummond,
que do gesto final
sobrou um tchau?
Palavra teimosa
que vai e volta
iôiô torturado nas cartas de amor
que não soube escrever.

Será, Drummond
que o anjo do perdão
está tocando a campainha?
Será que o destino das coisas é o esquecimento?
É o tanto faz
o deixa estar.

Será, Drummond
que meu coração
é pedra
sabão?

Será, Drummond
que ela lembra de mim
quando ouve um solo
de clarim?
Será, Drummond?
Será?
Ou nada a ver...


Gilberto Amendola,
jornalista e escreve no Haja Saco
às quintas-feiras

sexta-feira, 24 de abril de 2009

DE LÁ PRA CÁ

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Si la poesía es agua clara,
dulce caricia a los sentidos
quimera y ronda
sueño azul de rima y ritmo,
entonces
ya no soy poesía.
Pero si es lengua
y sangre,
y grito,
y pozo,
y llamarada.
Si es aquelarre de palabras
que liberan del hechizo,
entonces más que nunca
soy poeta.
Aunque mis versos
no me reconozcan.

Gisela Galimi
Buenos Aires, 1968

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Próximo lançamento: 23.05 em São Paulo




quinta-feira, 9 de abril de 2009

Modéstia à parte

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Quero poder comemorar as coisas simples
- porque simples é o meu poema.
Invejar as flores que não são tristes
- porque triste é o meu poema.
se houver problemas, superá-los;
se ousar a corrupção, vencê-la;
Quero a prosperidade - na verdade,
hotel seis estrelas!
- porque meu poema é simples
e pretensioso.
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quarta-feira, 18 de março de 2009

O GESTO NÃO É PALAVRA
NEM O OBJETO
AS LETRAS NÃO SÃO ONÍRICAS.

A SEQUÊNCIA DE LETRAS FAZ O CONSCIENTE
PALAVRA É O PENSAMENTO.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Dízima periódica

as letras
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palavras




palavras
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frases




frases
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conto




conto
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romance




romance
em grupo
coleção




coleção
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coleção




coleção
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