sábado, 29 de março de 2008

Discussão

Falácias
Faces de palavras
......F...A...L...É
......................S
.........................I
...........................AS
..............................onde o corpo não é
lugar algum
Prata preta no lixo
da boca
Dá o que falar
(muita porcaria!)
em meio
ao cenário branco.

terça-feira, 25 de março de 2008

Aqui

De onde me encontro
- e me perco onde? -
posso ver as fagulhas,
as falácias, a facilidade
com que trabalhas a verborragia
quase inútil - operário das palavras;
examina
dor
dos
dicionários.
O teu trabalho árduo,
o teu canto girassol
é tão emblemático,
tão ensimesmado,
que reluz utópico
diante do anonimato.

De onde me encontro
- e não me procuro -
posso rir, e não me ouves;
posso escrever, e não me lês.
Sou um poeta.

terça-feira, 18 de março de 2008

COMO DIRIA GLAUCO MATTOSO...

SONETO 49 VERSÁTIL


A crítica que tenho recebido
é quanto ao tema, não quanto ao formato:
"O Glauco trata só de pé e sapato,
ainda que use o molde mais subido."

Respondo antes de tudo por Cupido:
comigo ele jamais teve contato.
Além do mais, não vou deixar barato
que assunto algum me seja proibido.

Sou cego mas eclético, e versejo
acerca de problemas tão diversos
que nem forró, barroco e sertanejo.

De grandes e pequenos universos
é feito o Pé que cheiro, beijo e vejo:
a Ele presto conta dos meus versos.

sexta-feira, 14 de março de 2008

E fica por isso

Preguiça de enviar palavras
- sussurros - na minha mente.
[Estou sem concentração.
Ou com, não sei...]
A gravidade pesa!
[E como]
Maltrata o corpo, dentro dele
[Machuca por dentro, sabe?]
-..........................................................olhos na parede,
os desvio com dificuldade e um pouco de raiva.........-
.........................................................................................
Os olhos me fecham
- sinto uma dor –
é uma palavra que não vem
mais . nada.

quarta-feira, 12 de março de 2008

GARIMPO SEMANAL




Autor: Joaquim Branco

sexta-feira, 7 de março de 2008

verborragia crônica

a inoperância do verbo
ser
dilata-se à freqüência com que
a língua trabalha
a língua, que mastiga o verbo
e dilacera e dilacera e dilacera
feito máquina, feito
indústria pornográfica, feito
merchandising: efeito.
Há por dentro uma língua toda máquina
uma linguagem toda verbo
e um machado cujo prego
preenche os buracos
da tua escrita emoldurada
(um machado de aço para-
fuso de giz)

a dita-dura da língua-verbo
(a dita cuja é só verbo-língua)
projeta um futuro quase passado
um pretérito mais-que-imperfeito
repleto de
oh,
hei,
ais!

Permeia o cético de tão divina língua-verbo
rejeita a faceta do concreto
a língua-verbo que é só língua só
não se atém à semiótica
sempre semi-nua
semi-atleta
semi-até-analfabeta

a língua-verbo
não lê, não
escreve, só saliva
diante do prato que não pode comer.

(está de dieta)

quarta-feira, 5 de março de 2008

PereguinAÇÃO

..............Só há fama na cama da moça,

que escreve rápido nos teclados

s.l.ç.n.o nostalgia.

.o.u.a.d

.........................................................................

.......................................- Na cama dela também há pecados,

..............................................mas isso não tem nada a ver -

.........................................................................

Ela jura pela letra de Ana:

..............Irá dissolver-se em toda a água

............................................o..m

.........................................d.........u

..........................................o.......n

..............................................d

..............Jura também por Caio e Paulo.

....................................................................

........................Conta cheia de pose:

....................“Pessoas de todas as partes:

....................vocês terão que me engolir.”

segunda-feira, 3 de março de 2008

COMO DIRIA MÁRIO FAUSTINO...

Vida toda linguagem

Vida toda linguagem,
frase perfeita sempre, talvez verso,
geralmente sem qualquer adjetivo,
coluna sem ornamento, geralmente partida.
Vida toda linguagem,
há entretanto um verbo, um verbo sempre, e um nome
aqui, ali, assegurando a perfeição
eterna do período, talvez verso,
talvez interjetivo, verso, verso.
Vida toda linguagem,
feto sugando em língua compassiva
o sangue que criança espalhará – oh metáfora ativa!
leite jorrado em fonte adolescente,
sêmen de homens maduros, verbo, verbo.
Vida toda linguagem,
bem o conhecem velhos que repetem,
contra negras janelas, cintilantes imagens
que lhes estrelam turvas trajetórias.
Vida toda linguagem –
como todos sabemos
conjugar esses verbos, nomear
esses nomes:
amar, fazer, destruir,
homem, mulher e besta, diabo e anjo
e deus talvez, e nada.
Vida toda linguagem,
vida sempre perfeita,
imperfeitos somente os vocábulos mortos
com que um homem jovem, nos terraços do inverno, contra a chuva,
tenta fazê-la eterna – como se lhe faltasse
outra, imortal sintaxe
à vida que é perfeita
língua
eterna.