sexta-feira, 7 de março de 2008

verborragia crônica

a inoperância do verbo
ser
dilata-se à freqüência com que
a língua trabalha
a língua, que mastiga o verbo
e dilacera e dilacera e dilacera
feito máquina, feito
indústria pornográfica, feito
merchandising: efeito.
Há por dentro uma língua toda máquina
uma linguagem toda verbo
e um machado cujo prego
preenche os buracos
da tua escrita emoldurada
(um machado de aço para-
fuso de giz)

a dita-dura da língua-verbo
(a dita cuja é só verbo-língua)
projeta um futuro quase passado
um pretérito mais-que-imperfeito
repleto de
oh,
hei,
ais!

Permeia o cético de tão divina língua-verbo
rejeita a faceta do concreto
a língua-verbo que é só língua só
não se atém à semiótica
sempre semi-nua
semi-atleta
semi-até-analfabeta

a língua-verbo
não lê, não
escreve, só saliva
diante do prato que não pode comer.

(está de dieta)

10 espinhos:

Aline Gallina disse...

Este poema mostra seu amadurecimento na escrita. Neste um ano que se passou, você se transformou de uma mera entusiasta para uma entusiasta que é exemplo da boa poesia de hoje.
Tenho orgulho de não ser só sua parceira de blog, como de apê.
Beijões.

Dauri Batisti disse...

lingua, ao mesmo tempo asas e algemas. Não há como fugir do amplo pátio onde ela nos habita.

Anônimo disse...

isso parece aqueles trechos do Octavio Paz falando sobre a poesia...(isso é um elogio!) rs

Gabriel Leite disse...

Adoro essas brincadeiras meta-linguísticas. rs
Principalmente a parte do: a dita-dura - GENIAL!


beijos

Unknown disse...

http://yehudabenelin.blogspot.com/
agradece a visita e seu sabio conceito,
abaixo,sol, dor,flor,amor e todo o canto do rouxinol

e o verbo, e o tempo, e a vigula, e a rima, e a metrica chatice

"e um machado cujo prego
preenche os buracos
da tua escrita emoldurada"

bravos, bravos Priscella

Luis Eustáquio Soares disse...

a língua-verbo, o ser da lingua, saliva no praco que comeu e, entediada e desprezível e saciada de si, de excesso de si, de narcisico si de si, não pode comer o impossível, de tão previsível. belo poema, parceira, denso, despojado, vulnerável.
beijos,
luis de la mancha.

Anônimo disse...

Oieeee!!!!

Mto obrigada pela visita!!!! E sempre que quiser é só aparecer!

A propósito, mto legal o blog! Parabéns! Tô colocando na minha relação de favoritos!

Bjs

o refúgio disse...

não sou muito de verborragia, não, mas devo admitir: essa tá arretada!
Abraços.

Alessandro Palmeira disse...

Saciada a sede do verbo com a saliva do texto. Muito bom. Abraços.

JJ disse...

Puta que pariu!
(Fôlego)
Maravilha de metalinguagem! Fantástico! Erótico! E tudo é ação na língua do verbo. Até ser.