sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

a terceira face é você

Piscam duas faces diferentes para mim:
uma é branca,
a outra é preto e par.
Cera de giz em formato simples
delineia toda a história por trás de tudo.
Um hiato traz a saída e
um grito!
Voa de dentro para frente. Explodiu
o escuro da polpa
Vira de costas e vai embora
Deixa o ímpar carregado, sufocado
Nunca abandonado!
Até a terceira face o devorar em sustenido
Insistido, perseguido.
Oh! Meu Deus o mate agora.
Seu papel está mais do que feito.
Amassa a face e também se vai.


Poema de Aline Gallina
(em viagem)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Solo Fértil

Um sol me espia na noite
pálido de pavor.
Creio que fotografa as palavras
que não escrevo
e as imprime nesta folha
branca; minha cara,
eu atropelei o que falavas,
porém, está tão vivo - e isto,
sim, me mata.

O teu balão de vida
full gas
O teu ritmo de régua
full time
esvaziam minha paciência lírica.

Dirás que temo o teu ta-
lento... lento... lento....
- mas o passado ecoa,
não cria novos sons.

Temo é que estas criaturas "tapadas"
não enxerguem o clima que faz hoje:

choveu muito nos últimos 70 anos,
e agora germinam as árvores
das frutas que o Tempo apodreceu
no solo firme do desprezo.


...............................................O sol me espia na noite, pois
................................................já não há como desprezar.

domingo, 23 de dezembro de 2007

GARIMPO SEMANAL

aqui dentro é sempre noite.
aqui dentro eu não perdôo ninguém.
aqui dentro eu tô armado
e há uma revolução em curso.

uma só!
mas que dura há mais de 20 anos.
algo sem igual na historiografia.

(porque fazer revolução para conquistar
uma nação é fácil.
quero ver fazer isso aqui dentro,
onde não há espaço)


Autor: Fabio Jardim

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

COMO DIRIA CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE...

A PROCURA DA POESIA

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e amemória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Inglês

Estou com uma mania de
recorrer à tua língua
- ela tira tártaros que obstruem
meu cérebro.
Sou teimosa ao ponto de esquecer
o que ia dizer?

É preferível o tal
............[outro olhar
quase imprescindível,
a ponto de exclamação.

E você nem sequer sabe meu nome!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Influxo

Eu mereço a mulher que passa
do homem que declama
o poema.
É isso que eu mereço quando
diante da folha branca
a inspiração não chega

- Mas de................................. onde?
......................................................................vem

Há uma hora aguardo por esse momento
em que tu entrarás transparente e nua
e eu a comerei em branco e preto.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Compulsão

Um socorro à minha espreita,
caneta tinteiro à minha mão
Não poderia deixar de escrever uma ou duas frases
- uma palavra talvez .
Mato o socorro ao meio.
O papel sangra por vinte segundos, eu acho
que todo o sofrimento é só meu

Guardo a cicatriz até hoje,
- ela não é minha -
mas intriga minha vontade
de enterrá-la de vez.

domingo, 9 de dezembro de 2007

as bordas do "bother"

Gostava de música internacional e lia
poemas de amor, antigos demais
para os sentimentos atuais.
Mostrei alguns dos meus,
- exigente que fui, ou ingênua? -
olhou do papel para o chão e, então,
disse me que não gostava de escritos que falassem
sobre escrever:
"É chato..."
Boring.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

GARIMPO SEMANAL


da dor
nasce o poema
i

que é amor
i

do amor nasce a dor
i

da dor
nasce o poema
i

que
adormece a dor
i

a dor mede a dor
i

adormecida
i

cumprida,
lânguida,
sinuosa
i

dorminhoca
i

a dor éiiGRA(N)DE, mesmo dor
ooooooiGRA(N)DEiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimin
iiiiiiiiiiiiiGRA(N)DE iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiido
iiiiiiiiiiiii
i

a dor mexe!
i

Shiiiiiiii! Vai despertar a dor.
i

E eu...
i

Nunca mais
i

iiiivou
Aiiiiiiiime
iiiidor
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiser.
i

a
iiinão ser...

i
Alguém aí conhece um bom

iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimata dor?


Autor: Caio Cezar Mayer

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

COMO DIRIA ADÍLIA LOPES...

Depois de ler Natércia Freire

Não quero escrever
mais poemas

não quero escrever
mais
E quero sempre
escrever mais

Escrever o mesmo
haver sempre
nova vez

Não mudar
centro
o Sol
Deus
eu

não mudar
a árvore
de lugar

Não mudar

Não me calar
e calar-me

Cavar branca
a sepultura
como quem faz
uma cama

Correr
como corre
o rio

Para como pára
a pedra
como o caçador
que volta
da caça

de mãos a abanar.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Ditado impopular

Quem confere o ferro está ao meu lado
louco por um deslize.
Eu escrevo torto. O correto é so-
letrar o literário para Deus meu! entender.
Continua o te-ar dos dedos perdidos ao
longo do que ficou dito.
Pega o ar do final e chuta para o início:
Ar-te que te fere (in)diretamente.

Psicografia

Hoje eu vou fazer uma confissão:
Eu não sou um poeta.
Eu, na verdade,
- e por favor, segure o riso -
eu nasci um poema,
desses de improviso.
À noite, quando me sento
para escrever,
ouço os suspiros
de Vinicius;
A certeza incerta
de Drummond;
Dou gargalhadas com Quintana;
Paulo Leminski me observa:
- Que bom, que bom!
E de vez em quando,
muito sutilmente,
sinto a mão de Gil Vicente
sobre a minha mão.

Panorama Literário Brasileiro 2007/2008
As 150 melhores poesias de 2007
Câmara Brasileira de Jovens Escritores

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Entreversos

Venero o verso livre
que não escapa ao poema
- quando se_____ solta _____ na linha,
VIVE
a morrer
na exclamação:

Ó grave tinta escura de superfície
Corajosa, riscas meu vôo líqüido,
Acorrentas vazia o verso sem timbre
Veneno-padrão que morre vívido!

Ressuscita com uma vírgula.
Retira risco por ponto.
Faz virar......................ponta
....................cabeça
o verso branco antes enterrado.

Bocas apojadas salivando antífonas.

Poetas? Não, bibliotecários! Cirurgiões
literários de bisturis estéticos;
reféns do temor de contágio poético;
cozinheiros de rimas;
sobre
.........vivem nas mesinhas de cabeceira.
- Vamos exaltar o criado-mudo!
- Avante, Lirismo! Ô conFORMismo! Ostra-
cismo.

contudo que seja ação:
metrificação

- Realmente, Coronel! Você, Soberano
Lirismo.
- Tens uma alma bem cruel. Eu cismo?

Trago os alfarrábios no braço.

Suporte teórico em signos embebido
Rebuscas grotesco minh'alma de crassície.
Onipresente, destoa do tempo a calvície
Com o poder do trono a ti concedido.

É que de repente explode um son...
eto eto eto - ecoa na memória nua,
palavra que desperta a tentação
de rimar com crua, lua, tua...

Tua mão delicada outrora me disse.
Quão tonto nos deixa o efeito cumprido
É demais o perigo d’esse fazer tímido.

E é antiga e escura daqui a imundice.
Intensa atenção recolhida do ouvido.
Ó som retumbante que me és típico!


con-vida à caixa de ressonância
- o Tempo, este passeio cíclico;
este desperdício de; lágrima
desMANCHA versos no papel
e não apaga as linhas do Passado.

(é que eu me inspirava em Quintana,
enquanto Ele gritava: Quintilha!)

Por Aline Gallina e Priscila Lopes

terça-feira, 27 de novembro de 2007

GARIMPO SEMANAL

À la Drummond

E agora? A poesia morreu, o sonho acabou.
Quer ir para Pasárgada. Pasárgada não há mais.
Manuel? E agora?



Autor: Wilson Gorj
Disponível em: http://omuroeoutraspgs.blogspot.com/
Alguns aperitivos: http://www.veredas.art.br/

domingo, 25 de novembro de 2007

Poesia (in)culta

Meus miolos tosqueiam o ar
poético subentendido como culto.

Desculpem-me, mas creio que
não sou poeta. Devo ser mais um
escritor amador, mas amo a dor
que escrever me causa.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Abstração

Pássaros, pássaros! Passos
sôfregos perpassando o tempo
- e o Tempo é onde?

Vendo os olhos
de uma criança
que chora

(e o verbo é quando?)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Trazendo os olhos

Se eu não ouço o que escrevi
é porque insisto em meus olhos fechados .


A surdez dos olhos é a surdez da alma!

sábado, 17 de novembro de 2007

poema-(des)pedido

Quando eu houver partido,
mande lembranças minhas
à vida que não vivi,
por tanto teor comedido
- do desdireito de ir
e vir - conte a ela sobre
o poema-verso-livre
que nunca alcei em linhas
pois preso estaria ali.
Quando eu houver partido
ao meio, juntar as letras
de mim - pois a escrita
me lê, mas o verbo me foge
e meu papel resiste à tinta preta.
Comemorar cada ponto impreciso
das minhas reticências - corre
em minhas veias uma interjeição
que se exclama só, grita, sALTA, (morde!)
Quando eu houver partido
inteira, à maneira de ser oculta,
respeite meus fonemas como
quem não reage ao insulto de
saber-se (con)sentindo o chão
- ordenadamente orientam-se os
críticos
no rio raso da rasura:
por favor, corrijam o meu erro
corrijam-me o erro
corrijame.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

GARIMPO SEMANAL

vice-verso.

e, no espelho,
. . . . . . . . . . . . este que me fita

é mero reflexo?

ou sou eu

. . . . . . . . . quem o imita?



Autor: J. Rodolfo Lima

terça-feira, 13 de novembro de 2007

RESULTADO DA ENQUETE

Perguntamos com qual geração poética os visitantes se identificam mais: Drummond e Cabral, Augusto de Campos e Pignatari, Leminski e Ana Cristina ou Rodrigo Garcia Lopes e Ricardo Aleixo. A primeira dupla foi a mais pontuada, seguida de Leminski e Ana C.

Em resposta à enquete compomos um poema com citações de cada um dos poetas acima.


Intemporalidade Poética

Um galo sozinho não tece uma manhã:
tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
puro
__num
____mo
___mento
__vivo
E há de chegar paciente ao nervo dos teus olhos,
quem está por fora
não segura
um olhar que demora.
Frente a frente, derramando enfim todas as
palavras, dizemos, com os olhos, do silêncio que
não é mudez.
Veja sua poeira cruzando o panorama.
Os ecos que soltamos não retornam.
incompreensível, mas esplêndida língua
se formando ainda, pode ser que se decompondo.


Por Priscila Lopes e Aline Gallina

domingo, 11 de novembro de 2007

Solidão

Ainda não amanheceu aqui.
Estou só,
acompanhado do sujeito inexistente
e da penumbra
que teima descolorir em cinza.
Podem-se ouvir os grilos
gritam forte saltando da cabeça.
A partícula apassivadora agora é
um incômodo.
E o índice de indeterminação do sujeito
solidifica-se quando fecho os olhos.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

GARIMPO SEMANAL



Autor: Paulo de Tarso Aquarone

Disponível em: http://www.pauloaquarone.com/

Contato: pauloaquarone@terra.com.br

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Oscilação do Tempo

adiantada. Talvez eu esteja

Haverá o dia em que lerão minhas palavras,
mas hoje não:
silêncio, e amarga
a boca o café
preto como a visão nublada
de um crítico.

É o caso de Cruz e Sousa
que quando morto,
esteve mais vivo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Sinônimos

Definição de tudo e do ser e do mais
E do não ser pelo que menos poderia
Sem o porém das exceções
Dos além do mais
Que negam a existência em primeiro grau
Subjetivo de recalque de palavra
Retira o significado e substitui por outro
A decorar os itens diversos
Trazem ambigüidades para os ninhos
Passageiros de meia estrada sem fim
E traz duas saídas para os labirintos
[de uma só entrada.
Perpetuando todos os sinônimos
Avessos dos quadrados
Iguais ao um do espaço paralelo.

domingo, 4 de novembro de 2007

abolindo os cacos

Caçoaste da minha ca-
co - caco - fonia; característica
esquisita: mea culpa. Adminto.
Cada qual com sua mania (bem
clichê) a tua: supera-bundar a
exuberância estrutural extra-
passada. Forasteia a tua bandeira:
extradi(c)ção. Excreta-me a
intratável - em tempo hábil - tão
sonhada abolição.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

GARIMPO SEMANAL

Caixa de Carne

o mundo lá fora exigindo minha voz

a essência que me permeia fica quieta
tempos de inverno

sobrevivo olhando a fronte de alguns
à frente de mim mesmo

sou homem de recursos escassos
sei pouco daquilo que emprenha
as vítimas de minha sedução

quase mês sem gritar
quase mês sem soletrar a dor

por isso escamo feito peixe
caixa de carne triste
azedumes contemporâneos

ainda restam gemidos

- melhor -

ganidos palavrosos
deste seu cachorro sem escolhas


Autor: Rubens da Cunha

domingo, 28 de outubro de 2007

Desmistificando a fala

Palavra lavrada
era uma pá de palavras
mas a pa-lavra de cara lavada
foi levada à fala.
Palavra em varal
passou pela língua
ninguém a notava.

Bateu no céu-da-boca e fugiu.

Cara de pau essa palavra!

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Ex-posição gradual

O sol me rasteja o verbo
até untar ao céu da boca; eu
mergulho tua saliva em banho-
“Maria biblioteca”, eu te chamo,
“Joãozinho dicionário” (de rimas).
Vamos pular uma linha para fazer um
soneto: vamos, vamos! Que nada, é pura
trova, é um suspiro apenas: hAikAi! Raios!
Não entendo o puritanismo poético, esse zelo
desmedido - tão simétrico – faz sentido formal,
não mexe comigo – não mais – como antes, igual
ao que me tocava; como um ex namorado, passou: um
dia, eu sei, o havia amado, mas, a fila anda, e você está um
pouco, digamos assim, para ser bem franca, bastante atrasado.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

GARIMPO SEMANAL

Nudez

O nariz pipa, a pique, vomita o ego.
A máscara não dissolve
Nem absorve a arrogância.
Textos são asas.
Olhos, intérpretes da vida
E da falência da razão.
Palavras voam.
São roupas jogadas ao vento.


Autor: Carlos Alberto Fiore
Disponível em: http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=26041

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

O Fulano de Tal e "essa menina"

Eu sou o Fulano de Tal,
dono de posses.
És filha de quem, "essa menina"?
Quando eu crescer quero ser inscritora

Hoje o nome d'ela é poeta.

*

Lembra-se do Fulando?
Tinha os dois olhos tortos e as mãos fechadas.
Desistiu do tratamento por ser caro
Quando vai ler, olha para o próprio nariz.
Engraçado ele não se entender!

*

Inscrevo,
porque é para dentro.
Se for para fora é excrevo.
Inscrevo num desdiário
inconfissões.

*

O fulano não gosta de mim,
mas acho que é porque tem o nariz muito grande.
Se eu crescer mais ainda,
quero ser gigante também.
Mas quero que o não-corpo cresça junto.

RESULTADO DA ÚLTIMA ENQUETE

Na última enquete indagamos a opinião de vocês sobre os poemas de ônibus/metrô. O resultado empatou entre: a)serem lamentavelmente fracos e pouco contribuírem para a inserção da poesia no "gosto popular"; b)há poemas bons e ruins. O importante é estar expondo.
.
Então, aqui vai um texto de ônibus de Florianópolis para aqueles que aqui não circulam terem uma idéia do que ocorre:
.
É Poesia - Cacildo Silva

Quando a saudade aperta o coração,
Mas te conformas.
Quando ao ficares só te sentes forte,
Sem solidão.
Quando a imaginação te faz planos,
E o faz bem.
Quando sentes o aroma, são, da vida,
É, dela, a flor.
Quando vês que é sincero o que sentes,
É Poesia.
.
Limito-me a publicar o texto como um compromisso assumido com a enquete, uma vez que tenha ocorrido empate. O "poema" aqui exposto não expressa as opiniões das administradoras do blog.
.
Abraços, e continuem comentando.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Escândalo na Família Gramatical

A Gramática Clássica
é uma senhora pomposa
e histérica: virginiana,
horizontal, matemática,
gorda (obesa!), parnasiana,
madrasta má, professora
de régua na mão, a monarca,
patriota, celibatária, o patrão.

Mesmo com a doçura de um cacto,
teve ramificações - penosas.

A filha da sua filha,
"A Nova Gramática Contemporânea do Brasil",
a visita com freqüência: sagitariana,
transversal, problemática...
cuja quantidade de amantes
se envereda ao inventário
(sem hierarquização)

- Escancaradinha, não?

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Les poètes, Les livres

Je suis a máscara dos que lêem,
projeto teus olhos ao mundo.
Eu sou tout entière
você também
- se eu quiser -
Ô mortels!

De:Compondo.

O vento folheia a árvore.
Em sulfite A4 branca,
dessas com nome e
sobre-nome escrevo
(uma Pessoa inscrita observa)
In-vento memórias.
Trans-planto impressões.
Descompondo
Escrevendo
Exprimindo
Fernando
Matéria sedimentada de seiva elaborada,
não está ao pé do pé que ali está,
ex-tinta.

Por Aline Gallina e Priscila Lopes

sábado, 13 de outubro de 2007

GARIMPO SEMANAL



Autor: Nelson Aires
Contato: nelson_aires@hotmail.com
Disponível em: http://aqui-nao-ha-poeta.blogspot.com/

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Aos mortos de ressaca

Cintilam faróis so far away
de nós: três ou quatro, cegos;
de tão difíceis de soltar,
saltam em mim faltam
motivos erguidos para não
deitar; e o que é o horizonte?
Contemplo ao longe - alguns
goles mais tarde: - arroto um poema.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Com forma

Dentro dos conformes
Com formas emolduradas
Conforme-se com o “tudo isso!”
Sem formas elaboradas
Nem perda de tempo inventada
Fora dos limites da linha.
Para mim com tudo
- até fórmica!
Para ti talvez nada.

Dá licença!

Um dia alguém há de ver poesia
no que os poetas
não enxergam poemas,
e varrer o pó literário.
- Por que não? Varrer.
Qual é o problema
com a ironia?
A falta de decência?
Não.
É só falta de métrica.
Mas, calma lá,
me empresta a régua.
Eu vou contar cada sílaba
para ver se consigo essa tal
licença poética.

So read

Take me off the words
I'll tell in a few
In a fio.
Take me off the world.
It can be comprehendible
Easy to read if you actually do
- don't forget to open your eyes -
Put the significance
up side down,
play with it
It's legal...
I promisse.

Confessionário

Não escrevo
______confissões, mas confesso
que me
...escrevo.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Nas tuas mãos

Feche os dedos
Não os deixe caminhar de forma
Forma alguma, aliás
Nem ovalóide – que cabe em qualquer lugar.
Mostre três dedos
- pois com eles já é possível discutir de igual -
Se te fizerem pensar sobre algo banal
E de ti arrancaram um suspiro quando,
No final ainda pensas a respeito.
Abra a mão e sirva-a
De alimento para os olhos de quem for
Porque se a ti não compreenderem
Fazes parte do movimento
- és contemporâneo, meu amor!

Lirismo Farto

Finge que presta atenção, não lê
o que escrevo exige
devoção, as palavras merecem
reverências - pedem a todo momento,
não vês? Que isto é um poema,
não sentimento!

Estou farta de críticas não literárias,
de mensagens de estima e apreço.
Eu escrevo na linha imaginária
do que nem eu mesma conheço.

domingo, 7 de outubro de 2007

Estrambolia Melancótica

Tenho vontade de mim mesmo
vontade sob consciência de fato,
de tanto que se viveu, e viverá,
os cegos só enxergam minha ausência.
Tenho horror, tenho pena...
E não vale a pena descrever os sentimentos
outros. Mas se invento um novo tento
meu amor é simples como é vário,
e sendo vário é um só. Tenho fome
umbilical por todos que de passado
a contemporâneo me alimentam
e a sede nova-mente é de novo
que em mim se prolonga. A corola
revela levemente suas pétalas

(e cinco espinhos são) na minha mão.



Por Priscila Lopes e Aline Gallina