segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

COMO DIRIA ADÍLIA LOPES...

Depois de ler Natércia Freire

Não quero escrever
mais poemas

não quero escrever
mais
E quero sempre
escrever mais

Escrever o mesmo
haver sempre
nova vez

Não mudar
centro
o Sol
Deus
eu

não mudar
a árvore
de lugar

Não mudar

Não me calar
e calar-me

Cavar branca
a sepultura
como quem faz
uma cama

Correr
como corre
o rio

Para como pára
a pedra
como o caçador
que volta
da caça

de mãos a abanar.

16 espinhos:

Priscila Lopes disse...

O Cinco Espinhos ganha uma nova seção, intitulada "Como diria..." na qual, semanalmente, será apresentado um poeta "famoso" com um poema que venha ao encontro da proposta do blog.

Lunna Guedes disse...

Esse poema me lembra os dizeres que os poetas sempre precisam do silencio e há o momento em que este é pra sempre ou até amanhã.
Bom conhecer esse blog. A poesia é sempre uma forma de reflexão...

Rubens da Cunha disse...

oi, eu queria votar na enquete, mas não achei uma opção que parecesse com o que eu penso sobre o assunto :))

valeu conhecer vocês, apesar da rapidez, espero que na próxima a gente sente-se num bar e discuta literatura até não poder mais.

abraços

Anônimo disse...

Minhas caras foi um prazer ler aqui Adília Lopes
Sozinho.
Anda por ali qualquer coisa de suspeito em relação
A Natércia Freire que eu li na infância e adolescência.
Procurem Ana Hatherly, provavelmente já conhecem , poeta e »artista Plástica» e--- Provavelmente já conhecem , vale a pena:

Há palavras
que só vivem de noite
Só falam surdamente
sem lábios,
in fibrilações. Só para mandar um abraço deste lado atlântico
JRM

J.R. Lima disse...
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J.R. Lima disse...
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O Profeta disse...

Mágnifico poema...mágnifica...és...!


Doce beijo

Anônimo disse...

Cara Aline e cara Priscila, sirvo-me do vosso blogue, apenas para perceber o que o meu caro Rudolfo, entende por » encontrar Adília numa estante de sebo...» Acredito que seja uma observação irónica cuja desmontagem me aponte um traço cultural de grupo , a que não chego por razões de não partilha ou cumplicidade cultural, quero dizer desentendimento, por isso estou em branco.
Li com interesse tudo o que foi dito por Rudolfo sobre a forma como são comentados os poemas das poetas, acontece que não reconheço autoridade a ninguém para apontar caminhos ao poeta, como afirma, cabe-lhe a ele/a seguir sozinho/a um trajecto, uma sugestão às vezes até é perigosa. Um poema releva da singularidade de uma voz às vezes em uníssono, por questões de pacto, ou intenção mais basta, caso de Priscila e Aline , como o fez Ana Hatherly com Ernesto Mello e Castro, La Salette Tavares mas esta última sozinha . Talvez com matizes culturais e políticas implicadas .Ninguém escreve sobre o nada , Bloom já escreveu sobre a Angústia da Influência, e muitos já falaram sobre mitos da singularidade e inovação ou outras concepções românticas. Parilho do trabalho de oficina. Percebo que o crítico goste de mostrar trabalho fundamentado, também vi isso , o verbo vendar ou vender, não fui a Vinicius por dele andar esquecido , e trabalho e outros escolhas me ocuparem o meu tempo útil e afectivo.
Sou incapaz de perceber um poema e desmontá-lo só através de um mecanismo intertextual. Por isso, em meu entender, aqui cabe apenas outro tipo de comentário que não seja o de divisão de tarefas do trabalho poético: um faz e outro reconhece o primeiro. É uma aprendizagem que o meu caro está fazendo e olhe, eu também, faço agora uma outra licenciatura. E chego a pensar esse trabalho uma impostura. Admito a inocência ,agora os arrebiques , confesso tenho mais dificuldade em aceitá-los. Queira compreender, e leia se faz favor de novo o que escreveu, com a possibilidade de uma outra lente ou várias. Saiba sempre que um poeta não se pode corrigir nem sequer apontar caminhos , só ele/ela os encontrarão . Sei que sabe disto.
Não é verdade? cordialmente. JDRm

Priscila Lopes disse...

Creio relevante citarmos "A Angústia da Influência", assim como "A Morte do Autor", de Barthes, segundo o qual, os leitores criam suas próprias interpretações independentemente das intenções do autor.

É pretensão ou ingenuidade crer que se possa inovar na literatura. Crer que se consiga transmitir algo nunca antes transmitido, de modo jamais experimentado, sem se utilizar de discursos passados. Somos esponjas do ambiente social, a partir do qual formamos nosso capital simbólico.

Ao menos EU não tenho essa pretensão. E conheço bem o movimento modernista brasileiro, de décadas atrás. Talvez se trate, então, de um "movimento de subversão" que atua em ondas: de tempos desponta novamente para fazer mais um estrondo.

Abraços, e muito obrigada pelos comentários!

Leandro Jardim disse...

Bom poema, gostei!

J.R. Lima disse...
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J.R. Lima disse...
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J.R. Lima disse...
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Anônimo disse...

Cara Priscila,
como já tive oportunidade de vos dizer, eu não conheço de forma aprofundada a literatura Brasileira nem a a moderna nem a contemporânea, conheço escritores e poetas avulsos que me despertam curiosidade, de entre eles ACC, que me foi sugerida, e outros que vão aparecendo como Franz Cecim, que também aprecio. Creio que compreendi bem que os leitores criam as suas próprias interpretações, independentemente das intenções do autor, estou de acordo, a questão que levantei foi outra. Trata-se da emergência de movimentos ou atitudes com plena consciência de que se pode ir ao pergaminho e decifrá-lo no seu próprio tempo com o poder simbólico que lhe assiste, e outros
e , não o conseguindo o venham destruir gratuitamente , fossem vocês capazes de ir até ao capuchinho vermelho, ou à fada má. Os vossos propósitos são claros, e como eu não perco tempo, com o quue não me interessa, não viria aqui se não os entendesse, ou quisesse perceber melhor, È evidente que encontro ironia onde supostamente estaria lirismo noutras cabeças
O que não aceito é a destruição pela desruição, sem uma alternativa
que não seja a da corrosão do carácter por via do que se faz, não está aqui em causa a qualidade, que até encontro, seja eu claro, mas a ousadia , e essa sim , parece ter o preço da remoção, e outros preços .
A diferença encontro -a eu mesmo, na postagem de comentários que até não vos são favoráveis, e que vocês consentem, e respondem , da dos outros que só conhecem a arrumação
das ideias ou o poder pelo poder, essa praga que chega a ser, a da sagrada fome da reputação.
Quando falo em trabalho de oficina postulo uma outra possibilidade mais além , porque a não haver esse labor, nada mais existiria.
Não nego , o que muitos querem fazer a outros, o direito de construir a sua genealogia literária caso a entendam , por que razão a impõem , se ainda outros a tratam de outra forma?
São resquícios de intolerância , e a língua étão leve que os deixa passar. E ainda de Ana Hatherly , hei-de vos mandar uma tisana ou um Excerto do Mestre. A impostura da língua , só dela poderia falar Maria Gabriela Llansol.
Apenas uma nota, o livro que refere como sendo de Barthes, não é de Foulcault?
Cordialmente:JRM

Anônimo disse...

Caro Rodolfo
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- apenas o que considero importante no seu blogue é o aflorar inconsciente , de do qual não é culpado, » ao mínimo civilidadade---» Só isso me faz lembrar a ideologia remota do universalismo burguês do sec 19, a existencia de uns e outros, que felizmente a antropologia se encarregou de desmontar. Há muitos tempo que resido noutro endereço temporal, e graças a blodgosfera, posso dizer que sou um anónimo com uma sigla maiorzita do que KafKa . Passar bem , está a ver? -----------------------------------

Priscila Lopes disse...

JRM,

Roland Barthes tem um ensaio intitulado "A Morte do Autor", 1968.
Mas, sim, Foucault tem muito a ver com isso.
.
E as autoras do blog se dispõem a "dar a cara" a tapa, expondo suas verdadeiras identidades - várias delas, aqui digitadas, letra por letra, distraidamente - que é justamente o mérito do Cinco Espinhos: colocar o dedo na ferida, de vez em quando, para ver se sangra.

Poesia que não arde... não umedece os olhos.