quarta-feira, 31 de outubro de 2007

GARIMPO SEMANAL

Caixa de Carne

o mundo lá fora exigindo minha voz

a essência que me permeia fica quieta
tempos de inverno

sobrevivo olhando a fronte de alguns
à frente de mim mesmo

sou homem de recursos escassos
sei pouco daquilo que emprenha
as vítimas de minha sedução

quase mês sem gritar
quase mês sem soletrar a dor

por isso escamo feito peixe
caixa de carne triste
azedumes contemporâneos

ainda restam gemidos

- melhor -

ganidos palavrosos
deste seu cachorro sem escolhas


Autor: Rubens da Cunha

domingo, 28 de outubro de 2007

Desmistificando a fala

Palavra lavrada
era uma pá de palavras
mas a pa-lavra de cara lavada
foi levada à fala.
Palavra em varal
passou pela língua
ninguém a notava.

Bateu no céu-da-boca e fugiu.

Cara de pau essa palavra!

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Ex-posição gradual

O sol me rasteja o verbo
até untar ao céu da boca; eu
mergulho tua saliva em banho-
“Maria biblioteca”, eu te chamo,
“Joãozinho dicionário” (de rimas).
Vamos pular uma linha para fazer um
soneto: vamos, vamos! Que nada, é pura
trova, é um suspiro apenas: hAikAi! Raios!
Não entendo o puritanismo poético, esse zelo
desmedido - tão simétrico – faz sentido formal,
não mexe comigo – não mais – como antes, igual
ao que me tocava; como um ex namorado, passou: um
dia, eu sei, o havia amado, mas, a fila anda, e você está um
pouco, digamos assim, para ser bem franca, bastante atrasado.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

GARIMPO SEMANAL

Nudez

O nariz pipa, a pique, vomita o ego.
A máscara não dissolve
Nem absorve a arrogância.
Textos são asas.
Olhos, intérpretes da vida
E da falência da razão.
Palavras voam.
São roupas jogadas ao vento.


Autor: Carlos Alberto Fiore
Disponível em: http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=26041

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

O Fulano de Tal e "essa menina"

Eu sou o Fulano de Tal,
dono de posses.
És filha de quem, "essa menina"?
Quando eu crescer quero ser inscritora

Hoje o nome d'ela é poeta.

*

Lembra-se do Fulando?
Tinha os dois olhos tortos e as mãos fechadas.
Desistiu do tratamento por ser caro
Quando vai ler, olha para o próprio nariz.
Engraçado ele não se entender!

*

Inscrevo,
porque é para dentro.
Se for para fora é excrevo.
Inscrevo num desdiário
inconfissões.

*

O fulano não gosta de mim,
mas acho que é porque tem o nariz muito grande.
Se eu crescer mais ainda,
quero ser gigante também.
Mas quero que o não-corpo cresça junto.

RESULTADO DA ÚLTIMA ENQUETE

Na última enquete indagamos a opinião de vocês sobre os poemas de ônibus/metrô. O resultado empatou entre: a)serem lamentavelmente fracos e pouco contribuírem para a inserção da poesia no "gosto popular"; b)há poemas bons e ruins. O importante é estar expondo.
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Então, aqui vai um texto de ônibus de Florianópolis para aqueles que aqui não circulam terem uma idéia do que ocorre:
.
É Poesia - Cacildo Silva

Quando a saudade aperta o coração,
Mas te conformas.
Quando ao ficares só te sentes forte,
Sem solidão.
Quando a imaginação te faz planos,
E o faz bem.
Quando sentes o aroma, são, da vida,
É, dela, a flor.
Quando vês que é sincero o que sentes,
É Poesia.
.
Limito-me a publicar o texto como um compromisso assumido com a enquete, uma vez que tenha ocorrido empate. O "poema" aqui exposto não expressa as opiniões das administradoras do blog.
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Abraços, e continuem comentando.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Escândalo na Família Gramatical

A Gramática Clássica
é uma senhora pomposa
e histérica: virginiana,
horizontal, matemática,
gorda (obesa!), parnasiana,
madrasta má, professora
de régua na mão, a monarca,
patriota, celibatária, o patrão.

Mesmo com a doçura de um cacto,
teve ramificações - penosas.

A filha da sua filha,
"A Nova Gramática Contemporânea do Brasil",
a visita com freqüência: sagitariana,
transversal, problemática...
cuja quantidade de amantes
se envereda ao inventário
(sem hierarquização)

- Escancaradinha, não?

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Les poètes, Les livres

Je suis a máscara dos que lêem,
projeto teus olhos ao mundo.
Eu sou tout entière
você também
- se eu quiser -
Ô mortels!

De:Compondo.

O vento folheia a árvore.
Em sulfite A4 branca,
dessas com nome e
sobre-nome escrevo
(uma Pessoa inscrita observa)
In-vento memórias.
Trans-planto impressões.
Descompondo
Escrevendo
Exprimindo
Fernando
Matéria sedimentada de seiva elaborada,
não está ao pé do pé que ali está,
ex-tinta.

Por Aline Gallina e Priscila Lopes

sábado, 13 de outubro de 2007

GARIMPO SEMANAL



Autor: Nelson Aires
Contato: nelson_aires@hotmail.com
Disponível em: http://aqui-nao-ha-poeta.blogspot.com/

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Aos mortos de ressaca

Cintilam faróis so far away
de nós: três ou quatro, cegos;
de tão difíceis de soltar,
saltam em mim faltam
motivos erguidos para não
deitar; e o que é o horizonte?
Contemplo ao longe - alguns
goles mais tarde: - arroto um poema.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Com forma

Dentro dos conformes
Com formas emolduradas
Conforme-se com o “tudo isso!”
Sem formas elaboradas
Nem perda de tempo inventada
Fora dos limites da linha.
Para mim com tudo
- até fórmica!
Para ti talvez nada.

Dá licença!

Um dia alguém há de ver poesia
no que os poetas
não enxergam poemas,
e varrer o pó literário.
- Por que não? Varrer.
Qual é o problema
com a ironia?
A falta de decência?
Não.
É só falta de métrica.
Mas, calma lá,
me empresta a régua.
Eu vou contar cada sílaba
para ver se consigo essa tal
licença poética.

So read

Take me off the words
I'll tell in a few
In a fio.
Take me off the world.
It can be comprehendible
Easy to read if you actually do
- don't forget to open your eyes -
Put the significance
up side down,
play with it
It's legal...
I promisse.

Confessionário

Não escrevo
______confissões, mas confesso
que me
...escrevo.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Nas tuas mãos

Feche os dedos
Não os deixe caminhar de forma
Forma alguma, aliás
Nem ovalóide – que cabe em qualquer lugar.
Mostre três dedos
- pois com eles já é possível discutir de igual -
Se te fizerem pensar sobre algo banal
E de ti arrancaram um suspiro quando,
No final ainda pensas a respeito.
Abra a mão e sirva-a
De alimento para os olhos de quem for
Porque se a ti não compreenderem
Fazes parte do movimento
- és contemporâneo, meu amor!

Lirismo Farto

Finge que presta atenção, não lê
o que escrevo exige
devoção, as palavras merecem
reverências - pedem a todo momento,
não vês? Que isto é um poema,
não sentimento!

Estou farta de críticas não literárias,
de mensagens de estima e apreço.
Eu escrevo na linha imaginária
do que nem eu mesma conheço.

domingo, 7 de outubro de 2007

Estrambolia Melancótica

Tenho vontade de mim mesmo
vontade sob consciência de fato,
de tanto que se viveu, e viverá,
os cegos só enxergam minha ausência.
Tenho horror, tenho pena...
E não vale a pena descrever os sentimentos
outros. Mas se invento um novo tento
meu amor é simples como é vário,
e sendo vário é um só. Tenho fome
umbilical por todos que de passado
a contemporâneo me alimentam
e a sede nova-mente é de novo
que em mim se prolonga. A corola
revela levemente suas pétalas

(e cinco espinhos são) na minha mão.



Por Priscila Lopes e Aline Gallina